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Fenomenologia da experiência religiosa
(Filipe Abraão Martins do Couto)

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A religião sempre teve necessidade de perguntar pela sua própria essência. A religião fala da vida, elevada a instâncias de vivacidade extrema. A filosofia da religião preocupa-se com um determinado objecto no plano das suas características comuns, não tanto o plano singular de si mesma. A fenomenologia da religião, por sua vez, procura descrever tão rigorosamente quanto possível a experiência religiosa daquilo que é vivido. O que importa é o que é vivido pelo sujeito na experiência religiosa, qualquer que ela seja. É uma descrição do facto em si do que é a experiência mística. A experiência mística não se encontra fechada em si mesma, mas é um horizonte em aberto que pode ser fecundado pela nossa própria compreensão. A fenomenologia procura deste modo compreender todos os níveis de profundidade de vivência do fenómeno religioso. Actualmente, estamos numa era profana, tal como tão sabiamente Eliade nos indicou, e da minha parte, a procura do sagrado é constante. Existe no homem uma tendência para procurar a sua purificação. E a purificação é procurada num ser cuja natureza reúna em si, a perfeição. O conceito de perfeição combina em pleno um sistema binário, a saber, o objecto perfeito, que é o arquétipo de cada religião, o ser iluminado maximizado à divinização, e o eu, tão somente o eu, na correspondência com o ser iluminado. O eu, possuidor do corpo e do espírito, é dogmatizado através de canônes pertencentes ao objecto iluminado. Por outras palavras, a fenomenologia da experiência religiosa pode conseguir descrever um fundamento à priori através do campo de possibilidades existente entre o eu vazio e o eu que recolhe, que absorve os mandamentos, quer físicos ou espirituais do dogma em questão. Ou seja, quando se é cristão, e se pensa na necessidade de purificação, pensa-se obrigatoriamente em Jesus Cristo, e em tudo o que ele representa. Pensa-se em Jesus Cristo, e depois no eu. E pensa-se nas várias transformações físicas e espirituais que o eu teria para alcançar o ser divino, se fosse efectivamente pretendida a purificação. E conseguir-se-ia ter a noção do sofrimento e a grandiosidade da fé para alcançar a sua perfeição. Todavia,se existem regras para a orientação do espírito e da mente, conforme a religião defende, estas mesmas não podem constituir o limite para atingir a própria purificação. Estas regras são apenas meios conceptuais para atingir fins muito superiores que estão para além da razão, para além do bem e do mal. Finalmente compreendi, tal como o Mestre Eckart referiu, que Deus não deve ser humanizado, mas o homem deve procurar ser deus através de uma experiência bastante peculiar, subjectiva, e que caminha para fazer caminho. A opção, a escolha, é a base de tudo, e enveredar pelo caminho é o princípio básico para uma experiência fenomenológica da religião. São necessários os requisitos da simplicidade do ser, da simplicidade da alma, da redução da dimensão divina ao mínimo para fomentar a longitude do coração da realidade, para promover uma experiência mais completa. Quanto menos palavras pronunciarmos, mais nos aproximamos do centro, até atingirmos o silêncio. Sempre que há discurso não se pode estar no coração da experiência, mas apenas na margem dele. Concordo absolutamente com São João da Cruz quando sugere que no estado mais profundo de contemplação não há objecto, logo, não pode haver uma especificação, não pressupõe um conhecer, nem se procura sequer o fervor religioso, pois a procura é um obstáculo à verdadeira contemplação de Deus. A contemplação é algo que é dado ao sujeito, o homem não pode fazê-lo por si. A contemplação é como o Divino se infundisse na alma e a encontrasse vazia, infundindo-se nela. O sujeito torna-se assim como o receptáculo em que recebe as doações de Deus. Quanto menos se fizer alguma coisa mais o sujeito se coloca nessa disponibilidade necessária, pois a aceitação absoluta exige uma quietação interior. Desta forma, Deus não é vazio, mas a alma tem que estar vazia de tudo, completamente disponível para ser um recipiente de acolhimento do divino. Um esvaziamento de tudo o que nós tomemos como referências. Um desprendimento de tudo o que consideramos como verdadeiro. É necessário aprender e desaprender tudo o que nós julgamos saber: a alma tem de estar nua, despida de todos os preconceitos e expectativas.



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