A Revista do Brasil
(Lúcio Júnior)
Diagnosticando um Período a Partir de uma RevistaO livro Revista do Brasil: Um Diagnóstico para a (N) Ação, texto de Tânia Regina de Luca publicado pela editora da UNESP em 1999, fez mais do que a análise de um periódico: estabeleceu um diálogo crítico com Monteiro Lobato, com o regionalismo paulista, com as propostas de construção da Nação e com os ideais eugênicos, desvendando as articulações entre cultura e política no Brasil dos anos 10 e 20. A autora estudou essa revista e sua importância para o início do século XX. O texto ressaltou a importância da Revista do Brasil, uma das publicações brasileiras de maior repercussão e longevidade no início do século XX. Partindo de sua origem, em 1916, até o fim de sua fase principal, em 1925, Tânia De Luca apreende a revista não apenas como fato editorial, mas como veículo de divulgação das propostas da intelectualidade no período. Dessa forma, a autora evidenciou o peso de sua influência na determinação dos rumos da vida política nacional da República Velha. Originalmente apresentada como tese de doutoramento, a obra foi dividida em cinco capítulos (sem contar a introdução e as considerações finais) que trataram de temas diversos, mas que tiveram como fio condutor a realidade nacional. Os títulos dados foram os seguintes: “Revista do Brasil: redespertar da consciência nacional”, “História e Geografia, revalorização da Nação”, “Etnia: um desafio para construção da Nação”, “Ciência: solução do problema nacional?” “Língua: edificação da cultura nacional”. Ao contrário de outros autores, que terminam por abordar a década de 10 somente enquanto ante-sala do Modernismo, De Luca investigou a fundo a produção literária da década tomando por base a Revista do Brasil, fundada por Monteiro Lobato. Esse escritor, pioneiro de nossa indústria cultural, demonstrou, junto com outros intelectuais ali reunidos, grande preocupação com a realidade nacional. José Bento Monteiro Lobato (1882-1948) obteve fama e repercussão para seus textos a partir de um artigo intitulado Velha Praga, carta impressa em O Estado de São Paulo em 12 de novembro de 1914. Logo a seguir, publicou Urupês e tornou-se colaborador remunerado de O Estado. A equipe do jornal o acolheu como “novo de forma” e “revelação”, termos não muito diversos daqueles depois usados por Oswald de Andrade para falar de tais textos. Velha Praga denunciava as queimadas, enquanto Urupês deu origem ao anti-herói nacional, o Jeca Tatu. Esse último incomodava porque rompia com o discurso ufanista a respeito do país e seus habitantes, trazendo à tona questões sobre a permeabilidade do Brasil à modernização, os caminhos a serem trilhados para atingi-la, as causas e os responsáveis pelo nosso descompasso. Numa palavra, discuti-lo implicava ter por objeto o próprio país. Conforme concluiu a autora a partir de sua pesquisa,a questão (nacional) emergiu com força no cenário brasileiro num período em que as potências industriais ferozmente disputavam a hegemonia econômica mundial. Em nome da unidade, soberania e grandeza da nação, os Estados, autoproclamados guardiões dos ideais nacionais, justificavam suas ações em prol da extensão das fronteiras, do domínio e da exploração de áreas coloniais, da obtenção de concessões, privilégios e monopólios em regiões periféricas, da política armamentista, do incremento e da defesa da produção nacional, além de exigirem, de todos os cidadãos, fidelidade e lealdade primeiro em relação à pátria. O Brasil, ao iniciar o século XX, era um mau exemplo. Estava estigmatizado pela presença dos índios e negros, considerados inferiores. O debate étnico, em pauta entre nossa intelectualidade desde a independência, apareceu também nas páginas de A Revista, pautada pelo debate europeu em torno do evolucionismo. Muitas saídas foram pensadas, entre as quais a necessidade de políticas educacionais para a população e o “branqueamento” do povo brasileiro com a aclimatação de imigrantes europeus. Nesse período, o pessimismo de estrangeiros horrorizados com a mestiçagem local, tais como o aristocrata e embaixador francês Gobineau, marcou bastante os intelectuais brasileiros até a década de 20. A maneira como São Paulo ia conciliando a presença do elemento estrangeiro e o progresso econômico, o “branqueamento” e a brasilidade, tudo isso foi apresentado como mais uma manifestação do caráter peculiar da elite paulista, que desde seus primórdios teria sido composta por um extrato étnico diferenciado do resto do país.
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