Escritores e Otários
(Ademir Assunção)
Escrevi um texto sobre como os ESCRITORES, sempre tão geniais, são passados para trás no que se refere a POLÍTICAS PÚBLICAS PARA LITERATURA, etc. Escrevi sobre isso porque está rolando um projeto importantíssimo para nós no Ministério da Cultura (e pouquíssima gente está sabendo). Pela primeira vez as discussões estão sendo abertas e transparentes. Leiaí (e quem quiser ler outros textos é só acessar o blogue:
Ademir Assunção BATENDO NA MESMA TECLA: O ESCRITOR E A BRISA
Repare bem: quando se fala em políticas públicas para o TEATRO, não se fala em políticas públicas para a PEÇA. Também se fala em políticas públicas para o CINEMA e não para o FILME. No caso da LITERATURA, sempre se fala em política ou programa do LIVRO. Engano seu pensar que é apenas uma questão semântica. Não é.
Nas políticas públicas para o TEATRO ou para o CINEMA, os principais agentes do processo criativo dessas linguagens estão incluídos: o diretor, o dramaturgo, os atores, os cenógrafos, etc... No caso de políticas públicas para o LIVRO, o principal agente criador (o ESCRITOR ou POETA), sempre fica de fora. Quem lucra com políticas públicas para o LIVRO é o editor. Repare nisso.
Agora mesmo está se discutindo, via Ministério da Cultura, a criação do Conselho Nacional do Livro e Leitura, de um fundo permanente de financiamento ao desenvolvimento da leitura, e a recriação do Instituto Nacional do Livro (INL). Vocês viram a palavra LITERATURA incluída aí?
Continuamos naquela mesma indigência: ESCRITOR ou POETA vive de brisa. Repare: na cadeia produtiva (vamos falar bonito, vamos?) do livro, o livreiro é profissionalizado, o editor é profissionalizado, até mesmo o gráfico é profissionalizado. Quero dizer: todos vivem da sua profissão. O único que não é profissionalizado (não vive da sua profissão) é o principal agente criativo: o ESCRITOR ou POETA. Esses, vivem como funcionários públicos, jornalistas, professores (a imensa maioria), etc. Quer dizer: SÃO OS GRANDES OTÁRIOS DA JOGADA.
Uma pergunta que sempre batuca em meus neurônios em noites de insônia: na cadeia produtiva do livro (estou aprendendo a falar bonito mesmo!) o LIVREIRO fica com 50 a 60% de cada livro vendido, o EDITOR com cerca de 30% a 40% e o ESCRITOR com 10%. Está certo isso?
Entendo que cada um tenha que ganhar sua parte. Então, sejamos justos: 40% para o EDITOR (que investiu uma grana no livro), 30% para o LIVREIRO (que recebeu tudo de mão beijada e apenas põe o livro à venda) e 30% para o ESCRITOR (que investiu toda a sua vida e seus neurônios para escrever). Você já parou para pensar nisso? E olha que estou sendo generoso.
Mas, claro, EDITORES e LIVREIROS sempre falam para nós, ESCRITORES: sabe como é, literatura não vende. Poesia, vixe, então, credo em cruz, nem se fale. Ok, beleza, maravilha. Mas se não vende, por que cargas d'água não se fecham todas as livrarias e editoras do País? Se as coisas são tão ruins assim, por que tem muita gente de olho nesse NEGÓCIO FALIDO? E se estamos todos no mesmo barco furado, por que os EDITORES não nos chamam para discutir soluções com o Poder Público. Não, aí eles preferem ir sozinhos.
Na-na-ni-na-não. Tem algo errado. E ESCRITORES, tão geniais e desarticulados, estão sempre tomando no cu. Gritam, esbravejam, xingam, transgridem, mas na verdade, NÃO PASSAM DE OTÁRIOS. Não se articulam, não se organizam, porque acham démodé, chato, um saco. Enquanto isso, livreiros e editores se organizam, pressionam e conseguem (claro, eles não são burros).
E agora o Ministério da Cultura abriu essas rodadas de discussão para a criação de políticas públicas para o LIVRO (e essas discussões são um avanço, pois nunca vi os Ministérios anteriores discutirem porra nenhuma abertamente, decraticamente.) Se nós, ESCRITORES e POETAS não formos lá discutir, exigir, mudar a pauta, vamos levar na bunda novamente. É isso que queremos? Ou vamos lá reivindicar políticas públicas para a LITERATURA, que incluam o principal agente do processo criativodessa porra toda: o ESCRITOR?
Pensa um pouco, brother. E não fique marcando, porque tem muito Instituto por aí pegando toda a grana que deveria vir para os artistas desenvolverem projetos - e ainda posando de mecenas culturais. Se liga, maluco.
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