Dialética do Esclarecimento
(Adorno e Horkheimer)
Neste texto escrito durante a Segunda Guerra Mundial, sentimos a dureza desse momento histórico, tematizado indiretamente por dois judeus marxistas exilados nos EUA. Fica claro o quanto os dois não se adaptaram à vida americana, criticando duramente seu jazz (que tocava com freqüência no rádio no final dos anos 30 e 40) e seus jitterbugs (jovens que dançavam música popular), o cinema de Hollywood, seus supermercados. Os filósofos europeus viram naquele universo, além de um enorme mau gosto, um potencial autoritário enorme. Num período que a Europa e boa parte da Ásia padecem sob o fascismo, enquanto na Rússia reina o stalinismo, o capitalismo imperialista norte-americano, com seu desenvolvimento das comunicações de massa, dava claro exemplo do que seriam as modernas democracias burguesas, com seus mecanismos de dominação de classe, para os filósofos, repulsivos e inaceitáveis. Vendo o mundo em chamas, os filósofos fundadores do Instituto de Pesquisas Sociais buscaram no Iluminismo a chave do desencantamento negativo do mundo. Para tanto, existiria um movimento contrário ao impulso de esclarecer, iluminar e libertar a humanidade: quanto mais a humanidade se racionaliza e busca se libertar do mito, mas outras forças reagem e recolocam a dominação, o elemento irracional e mitológico floresce a partir das sombras e a razão torna-se mero meio anti-ético para se atingir os fins mais desvairados e monstruosos. Indo mais longe que Nietzsche, Adorno e Horkheimer retornam a Homero para repensarem o confronto entre mito e logos. Se Nietzsche viu em Sócrates o grego que encerrou a fase mais florescente da cultura grega com sua rígida dialética e o chicote de seu silogismos, Homero já vivia, com as sereias, um esboço do tropeço do sujeito contemporâneo que depois encontraríamos na síncope jazzística. O confronto e o “outro lado” da razão, aqui objeto da crítica e vista como cindida, são dos aspectos mais marcantes da Dialética do Esclarecimento, texto clássico da chamada teoria crítica elaborada pela chamada Escola de Frankfurt, muito original por sintetizar pensadores como Nietzsche e Heidegger, Marx e Weber.
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