Roberto Schwarz: Um Crítico na Mira
(Lúcio Júnior)
Marxista e crítico literário, o professor da UNICAMP Roberto Schwarz passou de um marxismo influenciado por Antonio Candido a frankfurtiano. Como dizia seu mestre Antonio Candido,não se trata de aderir aos apocalítpticos, mas de alertar os integrados. Schwarz achou melhor tornar-se apocalíptico. Alguns pensadores da Escola de Frankfurt são tão pessimistas, tais como Adorno, que chegam a ser chamados de niilistas. Curiosamente, Machado de Assis tem uma veia niilista que abordagem marxista alguma consegue encobrir, e que lhe chegou via Nietzsche e Schopenhauer, o que não desmerece suas posições avançadas e seus acertos como romancista, contista, poeta e cronista. O comunista Otávio Brandão, provavelmente o primeiro crítico literário brasileiro de orientação marxista, centrou fogo em Machado, escrevendo um livro chamado O Niilista Machado de Assis. De fato, creio que Brandão notou um traço verdadeiramente presente. Schwarz não nega o nilismo em Machado, o revê como distanciamento positivo. Mas há uma crítica áspera ao nacionalismo romântico que ele exprime subliminarmente. Num artigo sobre Paulo Emilio, Schwarz se refere diretamente a Glauber: No mesmo espírito imparcial, Paulo Emilio louva o profetismo de Glauber, lembrando que a função do profeta é profetizar, e não acertar... (Schwarz, 1997, p.51). Já Glauber, ao falar na crítica machadiana, a repudia sem sutilezas marotas: Machado é uma merda e a academia e o realismo pessimista eu não tou pra discutir flor do estilo (...). O estilo é a imaginação, o realismo pessimista, o criticismo decadente que fique com Machado. (Rocha, Glauber. Apud: BENTES, Ivana, p.612, 1997). Pior é quando subentendemos que Schwarz está atacando Glauber, como no artigo Existe uma Estética do Terceiro Mundo? A pergunta deveria ser precedida por outra: existe um conceito melhor que Terceiro Mundo para definir as ex-colônias européias? O conceito de Terceiro Mundo, no sentido usado por Glauber, se refere ao mundo colonizado pelo Ocidente. Pessimista e demagógico, Schwarz afirma que o público brasileiro é provinciano pela força das coisas (Schwarz, 1997, p.127). O crítico machado-frankfurtiano se esquece que mesmo um cartola na Senegâmbia como Rui Barbosa soube opinar com firmeza nas questões francesas ao defender com pioneirismo o judeu Alfred Dreyfus. A estética do Terceiro Mundo oculta a luta de classes, afirma Schwarz, sem no entanto explicar porque ela foi contemporânea do período nos anos 60 em que a luta de classes no Brasil esteve mais transparente que nunca. Ao publicar Que Horas São, Schwarz analisa o filme Cabra Marcado para Morrer, de Eduardo Coutinho, com sua ótica que, embora esteja interessada nos oprimidos, não está interessada em seu folclore curupira. A postura paternalista do intelectual no tempo dos cepecês foi substituída por um maternalismo que acredita que o intelectual deve aprender com o povo e nada ensinar. O artigo sobre o filme é marcado por um desejo de não rever a posição assumida no ensaio recolhido no livro Pai de Família e outros Estudos: o nacionalismo é responsável pela derrota de 64. Nessa versão reacionária, comum a toda a analítica paulista, o nacionalismo e as bandeiras antiimperialistas se tornam responsáveis pela queda de Jango, o que equivale, por exemplo, a culpar os pobres pela imagem negativa do país no exterior.
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