Revista SUPER Interessante - Março/2006
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OS SONHOS DECIFRADOSRevista SUPER Interessante – Março/2006 Texto de André SantoroResumo de Sonia Mattos O sono é o processo em que os seres humanos e outros animais descansam periodicamente.É durante o sono que ocorrem os sonhos, objeto de indagação e estudo desde a antiguidade. O interesse e a curiosidade por se descobrir os significados dos sonhos existem desde que o homem descobriu que sonhava.A princípio foi atribuído um caráter sobrenatural ao esse estranho acontecimento. Acreditava-se que os deuses enviavam mensagens às pessoas enquanto dormiam. “O sonho é a estrada real que conduz ao inconsciente”, escreveu Freud em sua obra-prima A Interpretação dos Sonhos (1900). Para Freud, a essência do sonho é a realização de um desejo infantil reprimido e tem como função primordial guardar o sono. Isso explicaria, por exemplo, o fato de incorporarmos elementos externos ao nosso sono, como as pessoas que utilizam o rádio relógio para acordar. Com o tempo o ruído ou a música do rádio pode acabar sendo incluído ao sono e a pessoa simplesmente não acorda quando o relógio toca. Nas décadas que se seguiram outros pesquisadores foram surgindo. O mais conhecido deles é Carl Gustav Jung, inicialmente discípulo de Freud, mas que acabou alçando vôo nas suas próprias teorias. Para Jung, o sonho é um mecanismo compensatório da psique, e a realização de desejos reprimidos é apenas um aspecto dessa compensação. É dele também o conceito do inconsciente coletivo, que contém representações compartilhadas por todos nós. São os arquétipos ou os conteúdos psíquicos que sobrevivem na mente humana desde o início dos tempos, qual uma memória do universo, como o arquétipo materno, por exemplo, que é uma predisposição inata para reconhecer a figura da mãe, mesmo quando nem sabemos ainda o que seja uma mãe. Para Jung, os arquétipos ajudam a explicar a ocorrência de sonhos semelhantes em pessoas sem nenhum vínculo. Como já nascemos com várias lembranças moldadas em nossas mentes, é razoável que muitas delas se manifestem em muitos indivíduos ao mesmo tempo. Não há uma concordância generalizada de que a psicanálise possa ser utilizada como técnica de terapia. Para o psiquiatra Robert Stickgold, da Universidade de Harvard, não há nenhuma evidência real de que os sonhos reflitam desejos reprimidos. O sono divide-se em dois estágios fisiologicamente distintos: REM (Rapid Eye Movement ou Movimento Rápido dos Olhos) e NREM (Non Rapid Eye Movement ou Movimento Não Rápido dos Olhos).Foi em 1953 que o pesquisador Nathaniel Kleitman e seu aluno Eugene Aserinsky descobriram que o sono de ondas lentas era entrecortado por episódios de atividade rápida no eletroencefalograma, semelhantes ao de uma pessoa acordada. Essa alteração era acompanhada por movimentos oculares rápidos sob as pálpebras e por isso, esse novo estágio foi batizado de sono REM. Nesta fase do sono, a atividade onírica é intensa, sendo sobretudo sonhos coloridos envolvendo situações emocionalmente muito fortes. É durante esta fase que fazemos integração da atividade cotidiana, isto é, a separação do comum do importante. Este representa 20 a 25% do tempo total de sono e surge em intervalos de 60 a 90 minutos. Esta fase é essencial para o bem-estar físico e psicológico do indivíduo.O sono NREM: A fase NREM ocupa cerca de 75% do tempo do sono. Este estágio NREM do sono representa essencialmente um período de conservação e recuperação de energia física.Cerca de 85% das pessoas, acordadas durante o sono REM lembravam-se que estavam sonhando, o que não ocorre nos outros quatro estágios do sono.Em 1962, o neurofisiologista francês Michel Jouver descobriu, a partir de experiências com ratos, que o sono REM era controlado por uma parte primitiva do cérebro conhecida como ponte, que não tem relação direta com os centros de emoção.Em meados de 1970, o psiquiatra James Allan Hobson, de Harvard, derruba por terra a teoria do conteúdo subjetivo do sonho. Para ele o ato de sonhar era o resultado da ação de neurotransmissores que ativavam regiões superiores do cérebro, como o sistema límbico, responsável pelas emoções e memórias. Já em 1980, o psiquiatra Mark Solms, da Universidade da Cidade do Cabo, fez uma revisão da literatura médica e descobriu 110 casos de pacientes que sofreram lesões cerebrais e deixaram de sonhar. No entanto, todos tinham a ponte cerebral intacta e continuavam tendo o sono REM. Ninguém pode afirmar com certeza por que sonhamos ou o que nossos sonhos significam. Entretanto, já é de conhecimento científico comprovado que há uma relação entre os sonhos e a memória e, portanto, um aprimoramento no processo do aprendizado. Quanto mais as pesquisas avançam, mais se consolida a certeza de que sonhar é fundamental para a vida. Partindo-se das interpretações primitivas, cheias de misticismos e crenças no sobrenatural, percebe-se que o sonho é fundamental para a vida. É necessário, é saudável e não custa nada.
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