EPIDEMIAS: DO INÍCIO DO SÉCULO PASSADO AOS NOSSOS DIAS
(Dora Oliveira)
Epidemias: Do início do século passadoaos nossos diasAo longo dos anos, a saúde pública no Brasil vem enfrentando grandes desafios. A escassez de verba e de mão de obra especializada, o baixo nível educacional da população, o surgimento de novas doenças e a volta de moléstias até então, consideradas erradicadas são problemas que persistem desde a colonização até os dias atuais. No início do século XX, o eminente médico sanitarista e cientista Oswaldo Cruz revolucionou a saúde pública, com seu desempenho transformador, estabelecendo um parâmetro na evolução da medicina em nosso país. O prodigioso Oswaldo Gonçalves Cruz formou-se em medicina aos vinte anos de idade, em 1992. Não se acomodou assumindo a clínica médica do falecido pai e continuando seu trabalho no ambulatório da fábrica de tecido Corcovado. Interessou-se pela microbiologia, que promovia uma revolução na medicina e pela soroterapia, tratamento de doenças com anticorpos obtidos no sangue de animais, seguindo para o Instituto Pasteur, na França, para se especializar. Curioso, como todo grande cientista e sempre procurando novas alternativas, durante o curso em Paris, especializou-se em urologia. Procurou aprender a confeccionar pipetas, provetas e ampolas para montar o seu futuro laboratório, tornando o Brasil auto-suficiente na fabricação destes produtos. De volta ao Rio de Janeiro, criou o instituo soroterápico, desenvolvendo um trabalho relevante na área científica. Integrando uma comissão da diretoria geral de saúde pública (DGSP), passou um longo tempo em Santos, combatendo a peste bubônica, juntamente com os cientistas Vital Brazil e Adolfo Lutz. Nomeado diretor geral da saúde pública, enfrentou grandes batalhas, combatendo a cólera, além da varíola, febre amarela e peste bubônica que se alastravam simultaneamente no Rio de janeiro. Foi chamado de louco e execrado, quando enviava os agentes de saúde às ruas a procura dos focos das larvas do mosquito aedes aegypti para combater a febre amarela e quando determinou a obrigatoriedade da vacina contra varíola. Superou a incompreensão do povo, dos políticos e da imprensa com dignidade e persistência. O tempo fez justiça ao admirável cientista e sanitarista, que tornou-se o mensageiro da saúde. Em poucos anos, a vacinação contra varíola virou decreto e foi estendida para o país inteiro e a capital Federal ficou livre das epidemias, que dizimaram a população por várias décadas. No limiar do século XXI, cercados de toda tecnologia, assistimos ao ressurgimento das enfermidades que o médico Oswaldo Cruz combateu. Fatores diversos, como o desmatamento, as interferências na natureza, modificações climáticas e as condições precárias de higiene têm contribuído para este fato. A febre amarela silvestre ainda faz vítimas, embora haja a vacina disponível nos postos de saúde. A cólera proliferou no litoral, causando transtornos à população local e aos turistas que visitam estas regiões no verão. Vem sendo combatida com rigor, para não se alastrar pelo interior. Situada no leste de Minas Gerais, Ipatinga, cidade onde resido, possui clima quente e úmido. Por estas características, é propensa a proliferação do mosquito aedes aegypti, que transmite a febre amarela e também, a dengue, que possui quatro tipos de vírus e cuja vacina ainda não foi desenvolvida. Tivemos epidemias de dengue em 2000 e 2001. Atualmente, está sob controle, entretanto, é sempre uma ameaça iminente, com riscos de termos a forma mais grave da doença, que é a dengue hemorrágica. Por aqui, as campanhas educativas não cessam. São distribuídos folhetos de conscientização nas casas e escolas, abordando o assunto numa linguagem simples e clara. Como os “mosqueteiros” da época de Oswaldo Cruz, os agentes de saúde dos nossos tempos, também sofrem incompreensão por parte de muitos moradores. Pacientes, vão passando de casa em casa, dando instruções e aplicando o larvicida nos locais de possíveis focos das larvas do mosquito perverso. Orientam para os pratos de vasos de plantas cheios de água, para a caixa d’água destampada e para as calhas entupidas. Quando retornam no mês seguinte, em várias casas, a situação permanece a mesma. Ainda há aqueles que não permitem a entrada dos agentes em suas casas e até mesmo, quem não acredita que a doença seja transmitida pelo aedes aegypti. Não acatam as orientações e chegam ao cúmulo de lavarem os locais onde foi aplicado o larvicida. Argumentam que a dengue vem no ar, como diziam no Rio de Janeiro, antes do médico cubano Carlos Juan Finlay descobrir, que a febre amarela era transmitida de indivíduo doente para indivíduo sadio, pelas picadas do aedes aegypti. São os novos tempos, com velhos conceitos e idéias ultrapassadas. . A melhor solução ainda é a prevenção, em qualquer local do Brasil. Nossos médicos devem se espelhar em Oswaldo Cruz e serem arautos da saúde, apesar dos baixos salários. O chamado “médico da família” pode orientar, evitando a evolução de muitas enfermidades. É preciso cuidar das moradias insalubres, com saneamento básico, condições de higiene adequadas e proporcionar ao povo uma alimentação saudável. O investimento em saneamento, em programas de combate à fome e implementação de campanhas informativas, representa economia futura para a saúde. Enquanto cidadãos, nós podemos ser arautos da saúde, orientando nossos vizinhos e familiares.Parece utopia todas as medidas citadas, mas são viáveis. Aliadas ao interesse dos governantes e mais investimentos, podemos obter resultados eficazes e muito contribuir para o bem estar de todos.
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