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Criando um conto:As visões que acompanham
(Clair Lima Vasconcelos)

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Clair Lima Vasconcelos Conto [email protected] As visões que acompanham A história que eu ouvira muitas vezes de minha mãe acompanha-me até hoje. A moça chamava-se Lina e veio de uma família de imigrantes alemães misturados aos italianos e índios. Morava no interior de Gravataí, no povoado de Glorinha.O pai, como tantos outros filhos de imigrantes, herdara as terras da família que as receberam pela imigração, pela ocasião do povoamento. A tradição e a cultura de plantar o aipim e a mandioca para moer e fazer polvilho doce e azedo na tafona construída no sítio, era um dos trabalhos que geravam o sustento. Quando os filhos casavam recebiam um pouco de dinheiro que ajudavam a ganhar. O mato cerrado entre os sítios, provocava pavor na escuridão da noite. Os ruídos,o pio das corujas, tudo contribuía para quei se dormisse cedo. À noitinha, o costume era sentar abaixo dos cinamomos e tomar um gostoso chimarrão ao som das histórias, desde as que aconteciam no navio, quando os pais do Vô Zeca e da Vô Elízia tinham vindo através do oceano até as de apavorardali do Rincão.O casamento de Lina estava marcado para abril.No dia 13 de fevereiro saíra com sua irmã Celita, a mais nova das quatro irmãs, para convidar toda a vizinhança. Foi nessa moita que apareceu o padre. Lina viu- o noitinha do dia 13, quando ia para casa de seu Lula .O padre vestia uma batina marrom, igualzinho São Francisco. Olhou-a, ela ficou petrificada, porque o padre não estava com os pés no chão, estava como a voar. Por isso o medo de Lina. – Celita, você está vendo aquele padre?-- Eu não. É tua imaginação.- Mas ele está no ar.-- Lina! Você está me apavorando. Vamos correr. Viu o padre desaparecer no monte de taquareira, no espaço vazio. E os galhos secos... Trim,... trim,...tibum, etc.-- Ceni, eu acho que aquele padre era uma aparição que veio trazer um aviso.-- Que aviso, ah! Isso é coisa tua. De tanto ouvir o Cido( Alcides era o irmão mais velho delas) contar histórias das bolas de fogo, que se batem no morro, das panelas de dinheiro que tem lá no mato, da cobra grande que desce nas árvores, tu já vês coisas que não existem.-- Não, desta vez eu vi aquele olhar sério e tu sabes que quando é assim, quer dizer alguma coisa.-- Pra mim, ele veio para dizer que é para eu não casar.-- Ah, que bobagem Lina! Se ficares pensando, tua vida não vai dar certo.Lina ficou agoniada. Já tinha a casinha pronta. José Arthur era o rapaz mais bonito que conhecera ali tão longe de tudo. Os olhos verdes dele, o cabelo crespo. Sempre que ele vinha trazer um presentinho, de vizinho para vizinha, ela o olhava encantado. Não podia esquecer a visão.Desde aquele dia não ficara mais em paz. O casamento aconteceu, os filhos vieram, eram três, um menino que chamava César e as meninas, Vanessa e Sílvia. Mas em todos os momentos felizes vinha aquela imagem do padre. Em 1970 aconteceu algo. Arthur era dono de moinho de farelo, situado em Santo Antônio da Patrulha. Era um homem bom.Tinha um moinho de cascas para fazer ração e uma casa com quintal grande, onde plantara arvoredos e flores. Ganhava dinheiro, mas trabalhava duro. Todos o admiravam, pela religiosidade, gostava de ler a Bíblia com outras famílias e discutir sobre as palavras sagradas. Precisava viajar sempre para Porto Alegre e Novo Hamburgo para vender as cargas completas de ração e depois voltava para trabalhar no moinho. Junto com três empregados de confiança preparava –as e ia entregar. Voltava com a pasta cheia de dinheiro. Para a família era uma festa. Pagava as contas, enchia a despensa de mantimentos e guardava o restante na poupança .Numa dessas viagens, saíra cedo. Para chegar mais rápido cortara o caminho em atalho e foi terrível. Não viu o caminhão estacionado, não podia desviar, porque outro vinha em sua direção. O resultado foi que a camionete Rural entrou abaixo do caminhão. Ele fora socorrido por viajantes. Chamando pela família entrou em coma. Foram dezoito dias de vida através de aparelhos. Sofrera duas cirurgias devido ao traumatismo craniano. E como não havia chance de se recuperar o médico chamou Lina e pediu o consentimento para desligar os aparelhos. Ela desesperou-se. Não podia deixá-lo ir. O que seria dela? Na tentativa de salvá-lo, foi na capela do hospital Cristo Redentor e pediu com todas as forças a Deus e a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, que José Arthur vivesse. Ficara por um longo tempo rezando o terço. Não viu as horas passando. Na tentativa final de que acontecesse um milagre, olhou para os santos da capela e pediu mais uma vez:- Salvem-no, por favor!Então uma luz lilás quase roxa cobriu todas as imagens, e o padre que aparecera às vésperas do seu casamento surgiu-lhe de novo. Desta vez seu olhar era de tristeza e compaixão. Olhou-a intensamente. E ela soube naquele momento que nada mais havia para fazer. Entendera a agonia que sempre voltava para sua vida em diversos momentos, desde o início. Saiu da capela mais leve, procurou o médico: -- Desliguem os aparelhos, Arthur já não é mais desse mundo



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