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Parto no Circo!!!

caso que mais se comentou naquela semana no Circo Imperial Democrático de Guilermina/Esperança foi o nascimento do filho da mulher-barbada com o engolidor de espadas. Ao contrário do que muitos esperavam, não nasceu um garotinho com pêlos no rosto. Ou, o que a maioria apostava (na cotação de 5 para 1), é que sairia da Eunice, a mulher-barbada, uma menina com a cara coberta de cabelos – que também não deu. Somente o palhaço Açudinho e o mágico Mandrácula acreditaram, e casaram grana alta nisso, que o filhote do casal seria uma criança que já nasceria engolindo espada. E, diante da pouca probabilidade de haver uma espada dentro da tenda do equilibrista Erneslástico, que comandou o parto, abriram a possibilidade do bebê tentar engolir um bisturi ou, em último caso, a placenta. Mas isso também não aconteceu, e ambos perderam dinheiro. Em um dos partos mais difíceis já registrados na história circense de Guilhermina/Esperança, o que saiu de Eunice, para a surpresa de todos, foi um minúsculo amendoim japonês. Daqueles amarelinhos, que ficam ainda mais gostosos com cerveja. Imediatamente, todos olharam para o anão Kikinito, que era miúdo e, também, japonês. Mas lembraram-se de que ele havia ficado eunuco, há alguns anos, depois de um acidente com o carro que explode depois que 19 palhaços saem de dentro. Na ocasião, Kikinito, que era o último a sair do carro, ficou trancado do lado de dentro, depois que Areião, o 18º palhaço, saiu do carro e fechou a porta com muita força. Kikinito, baixinho, não alcançou o pino para abrir a porta e o carro explodiu com ele lá dentro. Por sorte (ou azar), sobrou para suas partes – ainda mais – baixas. Desde então, nunca mais urinou em pé. O fato é que como ninguém tinha a mínima idéia do que poderia sair daquele casal mesmo, não se falou em traição. E assim todos aceitaram o amendoim japonês, que foi saudado aos gritos de "Urra! Urra! Bem-Vindo Bebê Esquisito! Bem-Vindo!". Com o tempo, totalmente integrado à vida circense, seu pai, o engolidor de espadas Guti Guti, resolveu ensinar seu ofício ao filho. Como se sabe, é tradição na vida circense os pais passarem seus conhecimentos aos filhos. E como Guti Guti não sabia ler, escrever, pescar e se lavava mal e porcamente, achou por bem dar umas aulinhas de como engolir espadas ao filho. Antes, claro, cogitou se não seria melhor que o filho aprendesse o número de Eunice, que consistia em ficar sentada no picadeiro penteando a longa barba e, eventualmente, caçando uma ou outra pulga na vasta cabeleira facial. Mas percebeu que o filho não deveria servir praquilo, já que não tinha barba (fator que Guti Guti creditava ao fato de ser o mais japonês dos amendoins), braços ou sabia se sentar. E assim, no afã de ensinar ao filho o legado de seu ofício, acabou cortando o pobre amedoim japonês em dois. O amendoinzinho, claro, não teve como se defender e acabou partido ao meio. O pai, bastante frustrado, tentou se matar do mesmo jeito, mas como sabia engolir espadas, sobreviveu e teve que aguentar a culpa de ter serrado o próprio filho. Eunice, por sua vez, acabou aparando a barba, fugiu do circo e fez carreira como modelo internacional, sempre andando, claro, com uma lâmina de barbear no bolso. E o único que respirou aliviado com o acidente foi Erneslástico, que havia montado a farsa do amendoim para encobrir a realidade. Eunice não estava grávida na ocasião, aliás, nem poderia, uma vez que tratava-se de um homem com uma imensa barriga de chope. Mas ele não podia contar isso a ninguém, uma vez que havia sido jurado de morte pela própria Eunice, quando descobriu, sem querer, o fato. O caso todo foi relatado anos mais tarde em uma revista de moda chamada Vanity Fair, para a qual, antes de ser desmascarada, Eunice fez muitos ensaios. Um jornal paulista chegou a dar manchetes para os fatos ocorrido no Circo na época, mas tudo acabou no esquecimento da população. Se não me engano, a sequencia de manchetes foi "Mulher-macaco dá a luz a amendoim japa", "Amendoim japa fala tudo" e "Pai mata filho com espada do capeta". As chamadas que desmascararam Eunice, por sua vez, saíram mais ou menos assim: "Mulher barbada era véio barrigudo", "Modelo brasileira é João", e "Bela de dia, Barba de noite". Mas isso faz muito tempo, e eu posso estar confundindo algum fato.

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