Resumo de The New Cultural History

Sim, a mentira permeia tudo e precisamos dela para sobreviver. Quem nunca mentiu que atire a primeira pedra. Falo da mentira solução e afasto a mentira problema. Minto quando digo isso! Pois a “verdade” pertence aos vencedores. Aprendemos desde cedo a temer e condenar a mentira ao calabouço de nossas vidas. Mas quando nos ensinaram assim estavam mentindo para nós e replicando mentiras culturais grotescas e nem por isso contestadas. Existem vários tipos de mentira, todas elas não se sustentam sozinhas e sim quando apoiadas em outras tantas mentiras. Se a verdade está em toda parte, a mentira a acompanha em sobrepasso. Porque ambas dependem uma da outra para poder existir. Mentira-verdade, verdade-mentira. É mentira que a verdade tudo possa curar. É verdade que a mentira não seja assim tão má. Existe a mentira vil, sórdida e egoísta. Mas também existe a verdade vil, sórdida e egoísta. Assim como existe a água que mata a sede e a água que mata afogado, é a mesma matéria em conteúdos e circunstâncias distintas. Uma vez quando criança presenciei uma cena que jamais esqueci: Um homem muito desequilibrado subiu no alto de um edifício e ameaçou se jogar, alegando ser Jesus Cristo e que ninguém acreditava nele. Enquanto houve o impasse ante a eventual queda, houve uma multidão impassível e curiosa apenas aguardando o desenrolar da terrível cena. Em meio à multidão ainda houve quem gritasse para que o infeliz pulasse e se estalasse no asfalto. Mas houve também um sábio homem humilde que arrancando a toalha vermelha da mesa de um bar próximo correu para o alto do prédio e ao chegar não muito próximo do atormentado disse-lhe: - Senhor eis que teu servo e seguidor lhe trouxe o manto sagrado da tua glória. O louco ao ouvir aquilo se aquietou da tentativa insana e desceu do parapeito. Foi então resgatado são e salvo por uma sábia mentira. Todo tempo cronológico em que baseamos nossas vidas modernas, é na verdade uma grande mentira inventada para registrar a nossa história. Enquanto resumidos em sociedades tribais onde replicávamos nossas memórias e aprendizados para no máximo duas ou três gerações futuras, bastava contar as luas e/ou outros eventos da natureza. A medida em que aprofundamos nossa cultura e aprendemos a contar, tivemos então necessidade de inventar o tempo e o aprimoramos até chegarmos aos milionésimos de segundos dos relógios nucleares de precisão absoluta da atualidade. Mas sem esta outra grande mentira o que seria dos nossos dias? E o que dizer das coordenadas geográficas e o que seria dos modernos GPS se passássemos a admitir que na verdade em nosso sistema solar, que dirá em todo o universo, inexistem referências que possam atestar o que seja Norte, Sul, Leste e Oeste. E a configuração celestial que miramos toda à noite ao contemplarmos as estrelas dos nossos sonhos e inspirações? Como seria monótono e insosso admitir que muitas daquelas estrelas não mais existe ainda que apenas sua luz teimosa e fria nos chegue anos-luz após sua própria extinção. A vida sem mentira, poesia, fantasia e mistérios seria muito triste. Prefiro o romantismo da mentira bem contada à “verdade absoluta” nua e crua (mais crua do que nua). Aprendemos nas estórias da carochinha que a mentira é má e não compensa, nos ensinaram a mentir desde cedo, contando-nos fabulosas estórias repletas de personagens incríveis que povoaram as nossas noites de sonhos ou pesadelos. E quantas crianças prometeram-se boazinhas e obedientes à espera do papai Noel? Seguimos reinventando nossas mentiras e compondo nosso mundo com fantasias fantásticas. toda arte da vida consiste em amar e idolatrar a mentira como contraponto de uma verdade absoluta e estéril que sabemos não existir mas que na realidade está em todas as coisas.

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