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A construção da Infância
(Bruno Larrubia)

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Uma perspectiva histórica da concepção da InfânciaA criança possuiu, e possui, ao longo da história, inúmeros significados e denominações, que variam de acordo com a sociedade em que se encontra.Aconcepção predominante no período clássico é de uma infância em que a criança é um ser pouco desenvolvido fisicamente e tanto do ponto de vista intelectual quanto do moral é significativamente inferior em relação aos adultos. Almeja-se um futuro promissor, tendo em vista não as próprias crianças, mas os adultos em potencial.Assim, alcança-se uma parcial concepção da infância: uma infância que reclama a necessidade de ser protegida dos segredos dos adultos, principalmente dos segredos sexuais, no entanto, esse sentimento repousa apenas na mentalidade dos que têm sensibilidade para entender aspectos especiais da juventude. Vale lembrar que a primeira lei conhecida que proibia o infanticídio foi promulgada no ano 374 da era cristã, três séculos após o surgimento dessa noção de vergonha nos romanos. Defendendo a vivência do homem mais próximo da natureza, Rousseau acredita que este deve desprezar os livros e a leitura. Esta afirmação é encontrada nas linhas de "O Emílio ou da Educação", em que o autor denuncia que "ler é o flagelo da infância, porque os livros nos ensinam a falar de coisas de quais nada sabemos". Se entendermos que Rousseau defende que a leitura é o fim da infância permanente e que ela destrói a psicologia e a sociologia da oralidade, porque a leitura cria uma separação entre os que podem e os que não podem ler, faz parte de um mundo de conhecimento abstrato, não observado. Constituí-se no flagelo da infância porque, de certo modo, cria a idade adulta. Gráficos, escrituras, mapas, enfim, a literatura de modo geral, reúne e guarda segredos preciosos. Com isso, num mundo letrado, ser adulto implica ter acesso a segredos culturais codificados em símbolos não naturais. Nesse mundo, as crianças precisam transformar-se em adultos. "Nunca sabemos colocar-nos no lugar das crianças; não penetramos suas idéias, mas lhes emprestamos as nossas, seguindo sempre os nossos raciocínios, junto com as cadeias de verdades acumulamos em suas cabeças apenas extravagâncias e erros". Na Idade Média, o comportamento é marcado pela infantilidade entre todas as faixas etárias. Nota-se que não há um conceito exato de adulto, muito menos de criança. Sendo assim, a infância se alastra apenas até os sete anos, ou seja, até quando a criança não domina a palavra " o menino de sete anos era um homem em todos os aspectos, exceto na capacidade de fazer amor e guerra".Ariès sintetiza muito bem esta idéia: "A civilização medieval tinha esquecido a Paidéia dos antigos e ainda não sabia nada sobre a educação moderna. Esta é a questão principal: não tinha idéia alguma de educação". Na época medieval não existia o mundo da infância, as crianças freqüentavam festas em que homens e mulheres alcoolizados comportavam-se vulgarmente, sem pudor frente aos menores.Deve-se considerar, ainda, na história, a alta taxa de mortalidade infantil que marca o mundo medieval. Devido à incapacidade de sobrevivência das crianças, os adultos não tinham, e nem poderiam ter para com elas o cuidado que atualmente é aceito como normal. Na verdade, em literatura 'o principal papel das crianças era morrerem, geralmente afogadas, sufocadas, ou abandonadas...' (...) não havia livros de pediatria. (...) as pinturas coerentemente retratavam as crianças como adultos em miniatura, pois logo que as crianças deixavam de usar cueiros, vestiam-se exatamente como outros homens e mulheres de sua classe social. A nova idade adulta passou a excluir as crianças e estas, expulsas do mundo adulto, passaram a habitar um outro mundo, o mundo da infância.Com a prensa tipográfica, essa nova tecnologia da comunicação, a estrutura dos conhecimentos humanos altera-se. Estabelece-se a noção de que os homens são indivíduos únicos, e este senso do "eu" levou ao surgimento da idéia de infância. Porém, apenas dividualismo não podia ter gerado a infância, que necessita de uma base convincente para separar as pessoas em diferentes classes. No entanto, deve-se ressaltar que a infância não floresceu da noite para o dia; ela precisou de, aproximadamente, duzentos anos para se firmar na civilização ocidental. Porém, tal idéia não teria ocorrido sem a noção de que cada indivíduo tem uma importância em si mesmo, tem uma identidade pessoal. E essa noção aplicou-se também aos jovens, e já no século XVIII, a mortalidade infantil - antes considerada natural - já era combatida. Os jovens teriam de se tornarem adultos e, para tanto, teriam de entrar no mundo da tipografia, ou seja, deveriam aprender a ler. Para tal tarefa, precisariam de educação. Diante disto, a escola foi reinventada pela civilização européia, tornando a infância necessária.Para Ariès (1981), a extensão escolar provocou uma revolução profunda e lenta no próprio sentimento de família. Agora, esta não era mais responsável pela aprendizagem de suas crianças, pelo contrário, confiava à escola o papel de educar seus filhos. A família deixou de ser apenas uma instituição do direito privado para a transmissão dos bens e do nome, e assumiu uma função moral e espiritual, passando a formar os corpos e as almas. Entre a geração física e instituição jurídica existia um hiato, que a educação iria preencher. O cuidado dispensado às crianças passou a inspirar sentimentos novos, uma afetividade nova que a iconografia do século XVII exprimiu com insistência e gosto, o sentimento moderno da família (p.267).



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