O Tinho
(Veríssimo)
Com quinze anos Tinho era mais um garoto nas categorias de base de um clube pequeno tentando a carreira de jogador de futebol. O sonho era o mesmo dos outros garotos e o futebol também não se diferenciava. Tinho foi surpreendido quando estava sozinho no vestiário por um homem todo de preto que se apresentou como Diabo e lhe entregou um cartão. Prometeu, em troca de sua alma, que Tinho teria muito sucesso na sua carreira e também muito dinheiro. O contrato foi assinado com sangue. Naquele mesmo dia, o garoto se destacou no treino. Marcou cinco gols, driblou como garrincha, passou como Sócrates, chutou como Rivelino e cabeceou como Pelé. Apareceu um empresário falando em castelhano e propondo cuidar da carreira de Tinho por uma percentagem e prometeu levá-lo pra Europa. Tinho assinou o contrato entendendo que havia vendido apenas sua alma para o Chifrudo e não seus direitos corporativos. Mas o Diabo não ficou satisfeito e reclamou seus direitos - já que Tinho ficou famoso da noite pro dia graças a ele. O clube então ofereceu um contrato para que o garoto permanecesse e prometeu uma casa pra família de Tinho. Até um emissário do Senhor, disfarçado de pipoqueiro, fez uma contra proposta para que Tinho desfizesse o contrato com o Diabo. O pipoqueiro argumentou que o Senhor tinha bons contatos na Itália e facilitaria sua transferência. Tinho está treinando no Chelsea, o Diabo ficou, muito a contra gosto, com 35%, O Senhor também com 35% e o empresário com 30. A situação da sua alma foi protelada. Espera-se quea Fifa crie alguma norma para resolver a questão. Luis Fernando Veríssimo é escritor e colunista do jornal O Globo.
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