Diario de Noticia
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Fim do século marcado por cheias e secas graves Menos água disponível no Verão, mais chuvas fortes no Inverno. Na prática, vão- -se agravar as secas nos meses quentes e as inundações nos períodos de chuva. No Algarve e no Alentejo, a redução do escoamento do rios pode, em 2100, chegar mesmo aos 80%, provocando uma grande escassez de água. Este é o pior cenário do impacto das alterações climáticas nos recursos hídricos, traçado por um estudo que é divulgado hoje em Lisboa. As assimetrias começam na distribuição geográfica da precipitação, com o Norte a sofrer um acréscimo relevante de chuva e o Centro e o Sul a debaterem-se com a falta de água. Mas estendem-se à distribuição sazonal: Primaveras e Verões sem água e Invernos com chuva muito intensa. Até 2050, os cenários traçados apontam para que o escoamento médio dos rios desça 10% a norte do Douro e até 50% no Algarve. Para 2100, as previsões mais pessimistas falam em reduções de 80% no Sul. Se com o calor a evaporação é maior, o escoamento nos rios diminui e a quantidade de água armazenada também decai drasticamente. Os modelos climáticos estudados pelo projecto SIAM - que traçou o impacto no nosso país das alterações climáticas, e cujo estudo sobre os recursos hídricos é só uma parte - preconizam ainda que a temperatura média continue a subir, favorecendo a ocorrência de ondas de calor. A tendência é para que haja fenómenos mais extremos e localizados no tempo. Ou seja, um aumento da frequência das chuvadas intensas e dos episódios de cheias, afirmou Luís Ribeiro, do Instituto Superior Técnico e um dos especialistas que avaliaram o impacto das mudanças no clima nos recursos superficiais. As consequências da debilidade das reservas de água em regiões áridas como o Algarve e o Alentejo não se resumem à escassez. Haverá degradação da qualidade da água e as espécies que vivem junto ao rio também sofrerão alterações. No litoral, a contaminação salina das reservas subterrâneas, os grandes armazéns de água, será outra preocupação. Os impactos nestas regiões do Sul que se apoiam economicamente em actividades dependentes da água - o turismo no Algarve e a agricultura no Alentejo - deixam alertas preocupantes. Viajarão os turistas para um Algarve tórrido e sem água? Haverá água para dar de beber aos campos de golfe? Poderão os alentejanos viver da agricultura de sequeiro, dependente da água que cai do céu? De Espanha não chegam boas notícias. As gestão das bacias hidrográficas comuns não será fácil, pois este será um problema dos dois lados da fronteira. Aliás, aí a falta de água já é drama actual, com o País a braços com uma das piores secas de sempre. O futuro já é presente? Nenhum cientista arrisca dizer com 100% certeza que o clima já está a mudar. E que o mau tempo na Europa, as cheias que por cá se viveram ou a seca extrema em vários pontos do globo se devem ao aquecimento global. Mas, diz Luís Ribeiro, tem havido nos últimos tempos indícios de que as coisas estão a mudar. E se havia muitas dúvidas há dez anos sobre a evolução do clima, esta incerteza têm-se vindo a desvanecer, acrescenta Filipe Duarte Santos, editor do projecto SIAM. Por exemplo: Havia a ideia de que os campos de gelo eram mais estáveis. Hoje sabemos que o ritmo de redução da massa de gelo é muito maior do que se supunha, explica. E o pior, acrescenta, é que mesmo que, por magia, se parassem hoje todas as emissões de dióxido de carbono, daqui a cem anos ainda teríamos problemas. Minimizar os estragos Perante estes cenários, mais ou menos catastróficos que se desenham para todo o mundo, as posições divergem. Se há países empenhados em medidas de fundo, capazes de inverter a crescente emissão de gases, embora sacrificando algum bem-estar, outros preferem preparar-se para viver num clima diferente. Para compreender a enormidade desta batalha contra a força da natureza, basta lembrar que o esforço dos países que ratificaram o Protocolo de Quioto - hoje aflitos com metas difíceis de cumprir- servirá para baixar, em 2012, apenas 5% do CO emitido pelos países desenvolvidos.
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