Fui, Fui?
(João Ubaldo Ribeiro)
Enquanto escrevo ainda não fui, mas quando estiverem lendo, tenho a esperança de já estar em Timbuctu pegando conexão pra Mossoró indo direto a Porto Alegre, onde passarei dois dias esperando vôo para Teresina e finalmente pego o avião pra Salvador, com escalas em Curitiba, Campo Grande e Uberaba, para depois seguir viagem de ônibus em pé. Sem falar na minha bagagem que vai parar em Dallas, levará dois anos para ser inspecionada, confiscarão meu canivete suíço como arma letal e proibirão para sempre minha entrada em espaço aéreo e solo americano. Serei perseguido como terrorista, cumprirei pena de 30 anos em Guantánamo sem direito a banho – de chuva ou sol. Essa é a realidade das viagens no Brasil. Claro que é brincadeira, exceto por Timbuctu e Dallas. Sou brasileiro e nunca desisto. Pretendo estar em Itaparica nesse próximo domingo de sol mantendo palestras matinais no mercado Santa Luzia. Nome oficial do nosso mercado de perecíveis, incluindo alguns perecidos desde meados do século passado. Todo janeiro me obrigo a essa viagem, mas dessa vez houve conselho de família pra decidir se eu poderia encarar a linha vermelha ou mesmo sair de casa. Quase perco e só venci pelo meu próprio voto. Mas tive que vestir o colete a prova de balas que ganhei. Já me preparo para o grande evento esportivo matinal na ilha onde Toinho e eu, disputaremos quem está com a pressão arterial mais baixa. Vá lá, menos alta. Já somos senhores de certa idade. Em janeiro passado Toinho papou todas. Mas foram placares apertados. Longe de mim desconfiar de Toinho, nos conhecemos faz sessenta anos, mas acho que ele já está chegando pra peleja com um Atenolol e um Enalapril no juízo. O que contraria as regras da contenda. De leve vou sugerir uma fiscalização. Estarei cinco semanas distante dessa coluna. (Não gostei dessa respiração sugerindo alívio). Se minhas contas não falharem muito, devo estar de volta em março. Preciso desse descanso para enfrentar 2007.
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