Alcoolismo
(Uriel)
Definir o limite entre o dependente químico de álcool etílico e o bebedor social é tarefa difí­cil até para os especialistas. Os critérios de clas­sificação costumam ser a quantidade e a freqüência com que a bebida é consumida. Porém, o mais importante sinal da dependência quími­ca parece ser a perda da liberdade sobre a deci­são do ato de beber.Há duas décadas, o Brasil ocupava o 13°lugar no ranking dos países consumidores de bebidas alcoólicas (9,12 litros per capita por ano), sendo o recordista na categoria dos destilados (13,4 litros anuais). Segundo os dados disponíveis na época, metades dos acidentes de trânsito ocorridas no país eram atribuídos a pessoas embriaga­das. Em 1978, o álcool etílico foi responsável por 1,5 milhões de acidentes de trabalho. O Ministério da Saúde também apontava o alcoo­lismo como a1° causa de internações em hospi­tais psiquiátricos (18,8%) e a 5° nos atendimen­tos ambulatoriais (4,5%).Infelizmente, embora sejam poucas as esta­tísticas oficiais disponíveis hoje, sabemos que esse quadro pouco mudou e, em alguns casos, até piorou. Estima-se a prevalência do alcoolis­mo em 3% a 10% da população. Em 2001, segundo o Ministério da Saúde, 20% das inter­nações psiquiátricas resultaram do consumo de bebidas alcoólicas. Estudo realizado em Recife. Brasília, Curitiba e Salvador em 1977 revelou que 61% das pessoas envolvidas em acidentes de trânsito apresentavam álcool etílico sangue.Mesmo insuficientes e imprecisos, os dados apontam a negligência visível por parte das auto­ridades quanto ao problema do alcoolismo no Brasil. As medidas de prevenção e de controle, sobretudo com relação à proibição da venda de bebidas alcoólicas à população infanto-juvenil, são tímidas e pouco eficazes. E o excesso de liberdade do setor publicitário permite que essa droga lícita ganhe cada vez mais adeptos. Todo cuidado é pouco, principalmente levando-se em conta as últimas pesquisas, que associam a predisposição genética para a dependência alcoólica a um ambiente estressante.Atualmente sabe-se que o álcool provoca lesões crônicas no cérebro e que os danos são tanto maiores quanto mais cedo se tenha adqui­rido o hábito de beber. Estudos realizados por pesquisadores da Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo, revelam que as alterações neurofisiológicas causadas pelo álcool são mais significativas em adolescentes do que em adul­tos. Entre os piores resultados dessas alterações, que incluem maior lentidão na transmissão de impulsos nervosos e comprometimento da memória, a pesquisa revelou que cerca de 80% das pessoas começaram a beber antes dos 18 anos de idade. Muitas iniciaram entre os 12 e os 15 anos de idade, incentivadas pêlos pais, tios ou irmãos mais velhos.Essas descobertas são alarmantes, principalmente quando se levam em consideração os dados de uma enquête realizada pelo Centro Brasileiro de Informações sobe drogas Psicotrópicas (Cebrid). Entrevistando 15503 estudantes dos ensinos fundamental e médio dez capitais do país, a instituição constatou que álcool é a droga mais consumida entre os jovens. E que 50% dos alunos com idade entre 10 e 12 anos já haviam ingerido bebidas alcoólicas.As pesquisas atuais põem em xeque o modo leviano com que a alcoolismo costuma ser encarado. As severas alterações neurofisiológicas proporcionadas pelo álcool no cérebro podem até mesmo levar a uma revisão das biografias de alguns alcoólicos famosos. è o caso por exemplo, do escritor americano Ernest Hemingway (1899-1961), prêmio Nobel de Literatura. Suas fantásticas bebedeiras sempre foram tratadas de forma condescendente e glamourosa pela mídia e pela maioria dos biógrafos. Nunca se cogitou que uma degeneração cerebral provocada pelo alcoolismo pudesse estar por trás do bloqueio da criatividade e da decadência física que o escritor experimentou em seus últimos anos de vida.
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