O valor da palavra
(Cybele Meyer)
Na época de Festas as pessoas se tornam mais sensíveis, tendo olhos para enxergar à sua volta e ver seu semelhante. Esta é uma época onde todos proferem votos de saúde, paz, harmonia, sucesso financeiro e outros. Até o primeiro dia do ano novo, este espírito de solidariedade permanece. No dia 02, esta humanização desaparece, permanecendo guardada até o final do ano que se iniciou. Nas Festas Natalinas ouvimos as pessoas dizer que sonham com a Paz Mundial e com a igualdade social. De tão usadas estas frases, não sabemos se realmente é um desejo ou um bordão.Conseguir a Paz Mundial e a igualdade social seria realmente a conquista do Shangrilá. Imaginem que maravilha, todos ajudando a todos, sem cobranças, sem esperar reconhecimento ou fama. A proximidade do Natal faz com que o homem passe a dar mais esmolas e este ato lhe proporciona a emoção de “ser bom” de “estar cumprindo com o seu papel de ajudar ao próximo”. Esta atitude faz com que se sinta de bem com Deus. Ocorre que esta sensação é muito rápida. Na próxima esquina ele já esqueceu que fez esta “caridade” e só vai lembrar-se quando outro pedinte lhe estender a mão. Ele então dirá: “Já ajudei. Já fiz minha boa ação. Já posso dormir tranqüilo”.E segue seu caminho com o semblante de dever cumprido.Temos que dar nossa contribuição para a conquista da Paz mundial e da igualdade social, mas isto deve ser um exercício diário e deve começar com aqueles que estão ao nosso redor, ou seja, dentro da nossa casa.E de que forma devemos começar?Valorizando a palavra dita. Na verdade já apagamos da nossa memória coletiva a importância da palavra proferida. O peso e o valor que uma palavra tem na sua essência.Deveríamos parar de falar em demasia, falar sem conteúdo, falar por falar. Deveríamos pensar muito antes de pronunciar uma única palavra e esta após ser dita deveria ser honrada. Esta valorização teria que começar dentro de casa, por cada um de nós, àqueles que tanto amamos. Nosso filho de um ano pega um enfeite que está adornando a mesinha de centro e nós, olhando para ele, dizemos “Nããããããooooo”.Ele larga, nos olha, e pega novamente. Dizemos “nãããããooooo”. Ele larga, nos olha e pega novamente. Então fingimos que não estamos vendo e o deixamos pegar. Ele então deixa cair no chão e ao vermos o enfeite quebrado, gritamos: - Está vendo, eu não tinha dito que não era para pegar!”. Ele, muito assustado nos olha e chora. Nós então, com o coração dilacerado, o pegamos no colo e falamos por cinco minutos sem parar:” mamãe não falou que não era para pegar... e patati, e patata....”. Enquanto falamos sem parar (diga-se de passagem, 90% do que estamos falando ele não compreende), ele nos olha e soluça. Então o beijamos muito e o colocamos no chão para brincar com outra coisa.A criança realmente não entendeu nada. O que será que ela deve levar em conta: O “não” dito com veemência? O “não” desprezado?O grito em razão de ter deixado cair o enfeito no chão? O excesso de carinho após o choro?Então todas estas palavras de nada valeram. Até a palavra “não” neste momento não teve peso algum.Com 07 anos a criança fica pedindo:- Mãe posso brincar na casa do Pedrinho?- Agora não. (responde a mãe).- Mas só um pouquinho (filho).- Eu já disse que não (mãe).- Mas porque? (filho).- Porque você vai almoçar. (mãe).- Mas eu volto logo e almoço (filho).- Então está bem, só um pouquinho heim! (mãe).E novamente a palavra se perdeu...E assim vamos, vida afora, dizendo e desdizendo, e a palavra cada vez mais enfraquecida.Além disso,Há os que usam a palavra para induzir o seu semelhante ao erro;Há os que usam a palavra para encobrir um trabalho mau feito;Há os que usam a palavra para vender um produto sem qualquer serventia;Há os que usam a palavra para ganhar votos;Há os que usam a palavra para justificar uma ajuda não prestada;Há os que usam a palavra para difamar;Há os que usam a palavra para fazer dele, a palavra do outro, e com isto se promover;Há os que usam a palavra para ofender literalmente.Mas poucos usam a palavra para consolar, para ajudar, para incentivar, para elogiar, para reconhecer o valor do seu semelhante, para chamar alguém de amigo, para dizer eu te amo.Mas não este “eu te amo” que vive na boca de todo mundo a todo o momento, mas um: Eu te amo para aquele que acabou de perder tudo o que tinha;Eu te amo para o amigo que ficou desempregado;Eu te amo para o filho que acabou de revelar que é viciado em drogas;Eu te amo para a mãe que ficou velha e doente;Eu te amo para o marido que não conseguiu aquela promoção;Deveríamos voltar ao tempo onde a palavra valia tanto quanto a própria assinatura.Já houve um tempo onde a palavra empenhada era honrada.Hoje falamos: “palavras se perdem ao vento...” ou “são apenas palavras...”.Que vergonha!!!!!Somos o único animal com inteligência e com verbalização e menosprezamos isto.A paz mundial e a igualdade social não serão uma utopia, se cada um de nós fizer a sua parte. Devemos dar o primeiro passo, dentro da nossa própria casa, dando a devida importância à palavra proferida. Feliz 2007.
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