AMOR ALÉM DA VIDATodo o cinéfilo que se preza tem seus filmes favoritos. Isso não quer dizer que eles sejam uma unanimidade de público e crítica, afinal, gosto não se discute! Qual o motivo dessa preferência? A resposta poderia ser um simples: “Porque sim!”; mas sempre há, no mínimo, uma boa razão para isso: o "dedo" do diretor, o carisma de um ator, um roteiro bem feito, uma cenografia que beira à perfeição, enfim tudo aquilo que prova que um filme não precisa ser uma superprodução caríssima para cair no gosto do grande público ou dos “experts”; virar um "blockbuster" ou "cult". Mas como se manifesta essa preferência? Fácil: Pela lembrança constante e pela vontade de vê-lo várias vezes, sem temor de enfado! É o caso, para mim, do filme “Amor além da vida” (When Dreams May Come, EUA, 1998). A diferença é que eu só o havia visto uma vez, no cinema; mas isso não me impediu de ficar profundamente envolvido pelo roteiro e pela beleza das imagens. A presença de Robin Willians - ator conhecido pelo que se convenciona chamar de superinterpretação, ou seja, exageros verbais e gestuais – colocava em dúvida o potencial romântico e dramático do filme. Annabella Sciorra também não tinha o apelo de uma superstar bonita e sensual. Havia, no entanto, Cuba Gooding Jr. – um ator fantástico em qualquer estilo - e Max von Sidow – uma legenda do cinema sueco, que consegue dar realce e credibilidade a todos os seus personagens.O resultado, em minha opinião, foi de uma felicidade notável, embora alguns o considerem tedioso... Mais uma vez: gosto não se discute! A humanidade que os atores emprestam aos personagens se encaixa perfeitamente nos cenários impressionistas e impressionantes do filme. As paisagens – quadros convertidos em realidade – são de uma beleza improvável e indescritível. A biblioteca medieval é transcendental! O inferno de navios é de uma força arrebatadora! É como se Rembrandt, Renoir e Dante Alighieri tivessem emprestado sua visão de paraíso e inferno à direção de arte do filme. Mas não é apenas nos cenários que o filme se baseia: As situações, os diálogos e as interpretações são de uma riqueza humana que, apesar de momentos de extrema dramaticidade, nunca é piegas. As mensagens otimistas também soam naturais. Fala-se do amor de almas gêmeas, de pais e filhos, de mestres e aprendizes, e sentimentos puros, capazes de ultrapassar barreiras dadas como intransponíveis. Mostra-se que as aparências e preconceitos não existem para os que enxergam com a alma. Diz-se que o amor e o perdão são sentimentos tão poderosos, que podem ser infinitos e transformadores, no tempo e no espaço. Existem, ao menos, três momentos em que reminiscências se unem a situações para gerar conclusões de irresistível força poética. É um filme que mescla tristeza e alegria, e agonia e êxtase, com equilíbrio e maestria raramente encontrados no cinema atual. “Pesa” quando é preciso, mas nos deixa leves, no final. Merece ser visto mais de uma vez! Adilson Luiz GonçalvesSantos -
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