A intimidade na mídia
(Dennys Robson Girardi)
Com o avanço da pós-modernidade iniciamos um confuso processo de abandono da intimidade. Neste processo a intimidade foi banalizada e está se tornando um rentável mercado através da mídia. São inúmeros os programas televisivos em que os protagonistas estão expondo completamente sua vida particular. Nos Reality Shows os atores vivem publicamente a intimidade, mostrando abertamente seus sonhos e vontades mais secretas. A divulgação da intimidade passou a ser encarada como possibilidade de lucro, quanto mais exposto estiver, mais famoso será. Os indivíduos de destaque conhecem bem o que é não poder gozar da intimidade. Porém, a cada dia os cidadãos comuns desejam e insistem em entrar nesta dinâmica auto-expositiva. Podemos ver claramente isso nos sites de relacionamento, onde muitos se expõe completamente, como no ORKUT.A demasiada exposição faz como que percamos a consciência de que somos seres dotados de segredos e somos valorosos por aquilo que guardamos no mias secreto de nosso coração, nossos sonhos e ideais. Quando nos descobrimos desprovidos de intimidade, detectamos a falta do que nos é essencial. Entretanto, vida real acontece no silêncio da intimidade, no aconchego carinhoso do abraço afetivo, onde impera a subjetividade do individuo consciente de si. Existem diversos prazeres que se dão em público, sejam os aplausos de reconhecimento pelo trabalho bem-sucedido ou a festa surpresa de aniversário. Contudo, podem ser prazeres momentâneos e vazios, pois dependem do reconhecimento de outras pessoas. São prazeres passageiros se os aplausos ou a festa não estiverem envolvendo pessoas especiais. O homem midiático (dependente da mídia) sustenta a idéia de que a satisfação e a felicidade têm a ver com a imagem projetada ao público. Depois de gerada a imagem, a mídia exige que ela seja mantida e defendida. Muitos famosos perdem seu sossego na tentativa de fazer jus à imagem, mascaram seus atos e tentam esconder-se. Alguns são tão assediados que não conseguem sequer ir ao mercado. Com tempo, após anos de sucesso, se encontram sozinhos rodeados de pessoas. Então percebem que a vida se foi, que os prazeres públicos sufocaram a alegria das coisas simples, que casa encontra-se vazia, que não há amigos verdadeiros, que perderam horas cercados de curiosos, de paparazos, em meio a tantas entrevistas que não tiveram tempo para amar. Passaram os anos entre um casamento e outro, entre um drink e uma aparição na televisão, mas não viveram a intensidade. A mídia lhes roubou seu segredo, a intimidade se perdeu e tudo se tornou um grande jogo de faz de contas, onde a pompa das festas e roupas caras tomou o lugar da vida simples e dos encontros de família.“A vida ensina que a felicidade jorra da intimidade. Não há outra fonte. Pode haver prazer na apropriação, alegria no encontro, júbilo numa boa surpresa. Porém, felicidade, como profundo deleite do espírito, só na intimidade amorosa, na oração sem imagens e palavras, na contemplação do belo, no acolhimento do ser querido, na entrega ao mistério, na eternização subjetiva de um momento, na poesia de um toque, um gesto, uma palavra que traz em si plenitude”. (Frei Betto)
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