Os Meninos-Feiticeiros da África
(Filip De Boeck; Roberto Pompeu de Toledo)
O medo as crianças-feiticeiras surgiu no Congo, mais precisamente em sua capital, Kinshasa, a partir dos anos 90, ao meio da guerra civil, da miséria e da desintegração. A essas crianças são arrogados poderes capazes de causar desgraças diversas as suas famílias, conhecidos e vizinhos; atribuem-se a elas as causas de doenças, fome, falta de emprego, brigas e todos os outros tormentos. Esse fenômeno traz consequências desastrosas, pois muitos pais abandonam ou expulsam seus filhos de casa que se transformam, então, em crianças abandonadas, crianças de rua. O antropólogo belga, Filip De Boeck é o acadêmico que mais tem estudado o assunto e descreve em seus trabalhos entrevistas com os pais ou com as crianças: Nuclete, menina de 4 anos, é acusada pela mãe de se transformar em adulto e perpetrar maldades; também a culpa pelo marido ter abandonado a casa e por ter adquirido Aids (a menina teria se transformado em adulto e injetado uma agulha infectada na mãe). Muitas crianças acreditam que são mesmo feiticeiras como o pequeno Serge, que diz poder viajar em vassouras, transformar-se em homem de 30 anos com 100 filhos, que já derrubou aviões, fez o pai perder seu emprego de engenheiroe que já comeu 800 homens, pois a esses pequenos feiticeiros também é atribuído o gosto de comer gente. Aliam-se às crendices a ação dos pregadores de igrejas pentecostais ( e sua ênfase nos artificios do demônio) que tem se multiplicado na África Subsaariana. Os pastores não inventaram o mito, como explica De Boeck, mas deram força a ele. As televisões controladas por evangélicos apresentam programas em que as crianças são apresentadas e denunciadas ou submetidas a exorcismos. Crianças-feiticeiras: um triste e pungente fenômeno que certamente adveio da penúria africana.
Resumos Relacionados
- O Globo
- Folha De Sao Paolo
- Quem Ama Educa
- Quando Eu Voltar A Ser Criança
- Kidzania
|
|