ATROP (roteiro de um curta metragem surrealista)
(Flávia Martin)
Arranhou-o a fechadura, mas a porta se abriu: - Não, gritava a voz louca! - Não, gritava a voz rouca! - Não, gritava muda! Esse caminho não! Mas, Atrop, de olhos arregalados e uma curiosidade impermeável à razão, não deu atenção e prosseguiu... a cada passo o passado se apaga e o pequeno se torna apenas um momento em movimento. Não há escolha! Você não tem escolha, nunca houve escolha! E, de fora, olha para o dentro e num piscar de olhos escapa-lhe também a sanidade. Trêmulo vê então o não visto: o início e o fim mesclando-se no mesmo copo, num mesmo corpo. Gerações paridas por úteros estéreis, formando uma massa incolor e insípida de cheiro ocre; passos inúteis que não levam a lugar algum, a dor que já não se sente por não ter semente, a mente que mente. Atrop caminha entre eles coletando estrelas cadentes em uma bolsa rota, não sabendo se ainda é cedo ou se já é tarde... Mas a tarde arde e, então, com os demais se senta à mesa para esperar nunca mais ter que esperar. Vestidos de normais discutem quais os fins, sem saber ainda quais os meios. Sobressai o silêncio e o pequeno se amedronta. A alma faz discursos sobre heróis, mas, Atrop não se reconhece neles. Ele tem medo de ter medo, mas, teme também não tê-lo. Sem coragem guarda sonhos afoitos quando vê na parede um homem na cruz e a fé vira calo, vai para o ralo e na parede vazia reflete-se a luz. O tempo emudece a massa... o tempo emudece o tempo e nesse lento falecimento se vê de carne e osso e tenta apalpar um além, mas volta de mãos vazias. Sorri para si num confortar desconfortável, sem saber se sempre foi ou se o é agora e, adormecendo, percebe que ja esteve acordado num mundo onde o acordar é crime. O espaço aperta, a coerência se esconde, lembra e se esquece. Caminha para trás!
(filmado por Fabíola Carvalho)
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