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A Gênese pessoal da leitura: uma autobiografia
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Falar sobre leitura e escrita numa perspectiva autobiográfica implica em mencionar duas importantes mediações presentes no processo de constituição destes dois atos. A primeira, de natureza ontológica, tem a ver com o modo como minhas características de personalidade e o meu contexto cultural (notadamente as características sociais e familiares). A segunda, se relaciona com os primórdios de minhas escolarização, especialmente no que tange à minha alfabetização e às primeiras quatro séries cursadas no ensino fundamental. Antes de iniciar esta “jornada ao microcosmo pessoal” relativo à gênese dos atos de ler e escrever, é necessário explicitar que entendo tais atos como prática culturais (CHARTIER, 1993), resultantes da relação entre o indivíduo (neste caso específico, eu mesmo) e o entorno sócio-cultural composto pelas estruturas sociais e os demais indivíduos. Deste modo, procuro operar com três conceitos-chave: 1) Apropriação (CHARTIER, 1993); 2) Habitus (BOURDIEU, 2001); 3) Leitura cumulativa (MANGUEL, 2003). Estes conceitos se fazer presentes no texto, sendo que haverá momentos nos quais a referência a estes se fará de forma velada ao longo do trabalho. Segue abaixo a primeira das subseções que compõem este capítulo do trabalho, relativa à “gênese pessoal da leitura e da escrita”.
Com o objetivo de tornar o mais claro possível o modo como iniciei o meu relacionamento com a leitura e a escrita, faz-se necessário retroagir até a relação de meus pais com a leitura, derivado também (e em grande parte) de sua ocupação profissional e do modo como estes vem a significar as práticas culturais de ler e escrever. Vamos então à relação com a leitura e com a escrita desenvolvida pelos meus pais. Minha mãe, à época de meu nascimento era professora primária há dezesseis anos, no que se refere à sua relação com a leitura e com a escrita, cabe destacar que ela se denomina “uma leitora voraz” e uma “escrevente comedida”. Meu pai era à época de meu nascimento advogado, se define como um “leitor instrumental’, cuja prática da leitura teria sido construída com o objetivo de aperfeiçoar suas técnicas de escrita e oratória. A esta altura, pode ser que se coloque a seguinte questão: “De que modo a relação de meus pais com a leitura e a escrita influenciou a minha própria relação com estas práticas ?” Para responder a esta questão, trago o conceito de “habitus”, o qual consistiria num conjunto de esquemas matriciais geradores de disposições duráveis, os quais engendrariam sistemas de comportamento, pensamento e visões de mundo (BOURDIEU, 2001).
O “habitus” teria sua origem na socialização primária, haurida no ambiente familiar, passível de ser transmitido hereditariamente. O “habitus” (apesar de sofrer transformações sucessivas ao longo da trajetória do indivíduo pelos diversos espaços sociais) criador dos hábitos de ler e escrever sofreria assim forte influência da família (assim como da escola), especialmente no que se refere à formação das disposições referentes ao desempenho deste hábito.
Após este interregno (um tanto longo, confesso!), torna-se claro o motivo pelo qual me remeti à relação de meus pais com a leitura e com a escrita antes de tratar da minha própria relação com estes hábitos. Dando seqüência, porém a este trabalho, sigo em direção a minhas primeiras experiências com a leitura e com a escrita.
No que tange às minhas primeiras experiências de leitura, é preciso indicar que não tenho condições de delimitar com exatidão qual foi o momento em que comecei a ler, sei porém que isto se deu no ano de 1980 (eu tinha então quatro anos de idade). Assim como relatado por Alberto Manguel em seu texto intitulado “a última pagina” (MANGUEL, 2003), antes das experiências formais (e escolares) de leitura, já identificava ícones gráficos (tais como logotipos de anúncios publicitários) desde o primeiro ano de vida. Em relação à minha primeira recordação acerca da leitura, é conveniente ressaltar que o momento em que me lembro de ter conseguido ler sela primeira vez sem auxílio de algum adulto[1] e de forma a faze-lo a partir da concatenação das idéias contidas num texto, de modo global se deu aos cinco anos. Assim, a primeira leitura quem e lembro de ter feito foi a de um texto sobre as cobras cascavéis num livro sobre serpentes, integrante da “Coleção Prisma”, no momento em que li este texto, senti que para ter acesso a emoções e sensações não precisava mais depender somente da presença física do objeto causador destas sensações[2].A partir de então, passei a ler vários tipos de livros, revistas e jornais. Com sete anos, na segunda série do ensino fundamental, me lembro que buscava ler livros didáticos da disciplina “Ciências” destinados a séries mais avançadas. Há que se destacar “a crescente voracidade’ com que eu passava a ler. Assim, destaco que teria herdado pela via do “habitus” (parte, ao menos) da disposição de leitura da minha mãe. Estas primeiras experiências constituíram para mim balizas fundamentais em toda a trajetória trilhada ate o momento.




[1] Antes desta época, minha mãe havia me alfabetizado em casa, e utilizava-se para tanto do método silábico de alfabetização.

[2] Me lembro do medo que senti das cascáveis, as quais, segundo o livro, possuíam um veneno que matava em poucos minutos.



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