Minha relação pessoal com a escrita: a internalização da técnica e a externalização das práticas
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No que alude à gênese pessoal da escrita”, cabe assinalar que o ato de escrever para mim sempre causou a sensação de ser menos prazeroso que o ato de ler. Durante os primeiros anos de minha escolarização (da primeira à terceira série do ensino fundamental), as atividades escritas se apresentavam para mim como sendo de grande dificuldade, e isto, ao que tudo indica, se dava por dois motivos: 1) escrevo com a mão esquerda e até a terceira série do ensino fundamental tive professoras que tentaram me fazer escrever forçadamente com a mão direita; 2) eu lia com uma velocidade muito maior do que escrevia, além de achar ser perda de tempo colocar em forma escrita exercícios que eram feitos por mim com uma velocidade muito maior de forma oral (ou mesmo mentalmente). A partir da quarta serie eu comecei a sentir menos dificuldade em registrar no papel as respostas dos exercícios (especialmente porque a partir de então me fora permitido escrever com a mão esquerda). De todo modo, em suas origens, o ato de escrever sempre ficou marcado em mim como sendo precedido de uma sensação de “cumprimento de exigências”.
Desta forma, apesar de não estabelecer uma conexão direta de causalidade entre o modo como me relaciono com a leitura e com a escrita e o modo como meus pais se relacionam com estas práticas culturais, ainda assim, me parece que, de alguma sorte, eu havia herdado parte das disposições maternas frente à leitura( sendo “um leitor voraz”) e parte das disposições paternas frente à escrita (sendo eu também uma espécie de escrevente instrumental”).
Neste artigo analiso dois processos que ocorrem/ocorreram de forma concomitante e que são caracterizadores de minha identidade no que se refere à relação particular com a leitura e com a escrita. Tais processos são por mim denominados: a) “internalização das técnicas”; b) “externalização das práticas”.
Como “internalização das técnicas”, entendo o processo mediante o qual, os diferentes modos de utilização da escrita e da leitura foram por mim aprendidos (e apreendidos). A terminologia do processo foi cunhada tendo como base, o conceito de “apropriação” (CHARTIER, 1993), o qual se refere a uma atitude ativa por parte do sujeito, no sentido de trazer para sua prática cultural de leitura (mas também de escrita) a carga de significados e dispositivos discursivos presentes nos textos. Assim, entendo a “internalização das técnicas” de leitura e escrita como uma modalidade particular de “apropriação” das práticas culturais relativas á leitura e à escrita.
No tocante ao processo denominado ‘externalização das práticas”cabe indicar que este englobaria desde as posturas corporais durante os atos de ler e escrever (as quais não serão analisadas no âmbito deste trabalho), até as técnicas de leitura e escrita (notadamente no que alude às normas gramaticais e às regras d estruturação lógica dos textos).
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