Como Desmascarar Charlatães (ou: A Retórica Vista Por Dentro) - Parte 1: O Argumento De Autoridade
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Este é um artigo que inicia mais uma série de resumos na área de filosofia, desta vez porém, situados no âmbito da filosofia da argumentação. Nesta série iremos ver alguns "truques" de argumentação utilizados com o objetivo de vencer uma discussão e se sobrepor aos demais mesmo sem ter conhcimento bastante para tanto. No presente resumo, iremos desmistificar um truque bastante comum (visto em abundância até mesmo no Shvoong), e que é definido por algunsestudiosos da retórica (tais como: Chaim Perelman, Aristóteles e plutarco) como: "argumento de autoridade". Mas o que seria este truque? Como se desenvolve e como se aplica o argumento de autoridade? O argumento de autoridade é a versão ocidental de um truque já identificado por Sun Tzu no livro "A Arte da Guerra" como "latir mais alto". Este truque se refere a toda aquela situação em que numa discussão ao verem esgotados todos os argumentos por parte de alguém que tenta defender uma posição (apesar de estar na contramão da lógica), esta pessoa interrompe o debate afirmando que seu conhecimento (apesar de equivocado) é o mais correto devido à suposta autoridade de quem profere este argumento. Vou dar alguns exemplos concretos que ilustram o que quero dizer. No primeiro exemplo, cito o caso de um autor do Shvoong que, ao ter seus argumentos rebatidos por mim à exaustão em uma discussão, apela para o argumento de autoridade dizendo que "eu sou um guri", e que portanto esta diferença de idade já conferiria ao portador de tal argumento a autoridade necessária para desqualificar-me como interlocutor.Outro exemplo pode ser visto em discussões nas quais o sujeito argumenta, por exemplo (em meio ao debate de idéias, e portanto incabivelmente naquela hora) que é um Doutor, e que portanto seu conhecimento é mais valorizado. Após esta demonstração breve podemos nos perguntar: como funciona este argumento? Qual o truque que faz com que o adversário consiga se evadir do debate com estatática suja. Em primeiro lugar, quero afiançar que não se trata de magia, mas antes doconhecimento do funcionamento dos esquemas de pensamento e linguagem, e portanto da argumentação(ainda que em nível somente prático). O golpe consiste no seguinte: no momento em que a discussão está perdida para o lado que vai usar o argumento de autoridade este desvia a atenção do interlocutor fazendo menção à autoridade de um posto que nos acostumamos a respeitar em nossa vida cotidiana. Imediatamente, e por reflexo o interlocutor se lembra de alguém respeitável que exerce este posto(por exemplo: de um homem mais velho, ou de um reconhecido Doutor), e isto ocorre por meio de um mecanismo de associação de idéias que existe nos esquemas cognitivos humanos (em outro momento falo das TeoriasAssociacionistas de Heerbart, aqui mesmo no Shvoong), e faz com que momentâneamente façamos confusão entre aquele que nos fala eo sujeito (abstrato e genérico)a quem nos acostumamos a respeitar. Esta pausa na argumentação é o recurso de que dispõe o adversário para fugir da discussão ou para tentar contra-atacar um adversário que foi bruscamente interrompido e terá portanto de retomar todo o proceso de encadeamento do raciocínio. Se este golpe fosse usado em uma luta física, o seu equivalente seria a ação de alguem jogar areia nos olhos do adversário para fugir ou para tentar dar-lhe um golpe enquanto este está temporariamente cego. Apesar do primarismo deste golpe, muitas pessoas são ainda vítimas deste ardil, o qual dá muitas vezes a possibilidade do adversário ganhar tempo e se evadir da discussão em aparente vantagem. A despeito da covardia e simplicidade deste recurso sujo, o mesmo é utilizado de forma repetida contra quem não conhece o golpe, e rende às vezes a quem o lança a alcunha de ser alguém respeitável. Como evitar este recurso? é simples: uma única pergunta desmonta o argumento de autoridade e como mágica vemos desfazer-se a ilusão criada por ele. A pergunta é: "porquê devoconferir a este sujeito a autoridade que ele diz ter?".Ao fazermos esta pergunta desaparece a falsa relação entre o interlocutor (concreto) e a "função respeitável" (abstrata e genérica) que ele supostamente ocupa, o que faz com que não sejamos induzidos a conferir autoridade a quem não possui. Espero que todos tenham gostado. No próximo resumo colocarei em evidência o truque do "argumento ao homem" (argumento Ad Homini), outro truque sujo usado por debatedores pouco capazes. Dedico este resumo a Magnus Amaral Campos e MariaNina, que com sua existência dão o testemunho da presença "inloco" dos exemplos que tenho citado em alguns de meus artigos.
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