Lolita
(Vladimir Nabokov)
Estava interessado em ver como ‘Lolita’ se lia, tendo em conta o actual clima, e estava preocupado que Nabokov, escrevendo na década de 50, veria talvez a pedofilia como um assunto menos sério do que é actualmente. ‘Lolita’ é indubitavelmente uma leitura desconfortável. Está escrito do ponto de vista de um pedófilo relativamente não arrependido, Humbert. Ele documenta as origens da sua obsessão com ‘ninfas’ – raparigas pré-adolescentes – e a sua perseguição delas. Eventualmente ele conhece Lolita, a filha da sua senhoria, e conta o seu (eventualmente cheio de sucesso) plano para fugir com ela e tomá-la como sua amante enquanto fingem ser pai e filha. O papel duplo de Humbert, como pai e abusador, leva-o a um ciúme obsessivo e a adolescência acelerada de Lolita deixa-a como um adulto precoce num corpo de criança, assustada e cínica. Ambos levam a consequências trágicas e vidas desperdiçadas em mais do que um sentido. Embora Humbert seja simultaneamente o vilão e o narrador, ele não esconde a sordidez do seu crime, e os efeitos do abuso sobre Lolita são compreendidos. Nabokov tece brilhantemente uma linha fina entre fazer de Humbert humano (e vendo o mundo pelos seus olhos) e o reconhecimento da realidade dos seus crimes. Apesar da escolha de Nabokov de fazer de um pedófilo o seu narrador e personagem principal, há pouca simpatia por Humbert ao longo deste livro e a pedofilia é apresentada como sendo tão repugnante como é geralmente vista nos dias de hoje. Onde Humbert se desculpa pelo seu comportamento fica claro que é Humbert e não Nabokov a desculpar-se e não se espera que sentamos simpatia pela personagem. As acções de Humbert são também apresentadas de uma forma não erótica. Também não há descrições gráficas, a sugestão é suficiente. Como Nabokov lida habilmente com este assunto, ‘Lolita’ é um livro fantástico. É um retrato psicológico de um homem repulsivo que se vê a si próprio a destruir vidas. O assunto é difícil mas Nabokov lidou com ele brilhantemente. A linguagem é lírica e esperta e há suficiente humor negro para suavizar um livro que de outra maneira seria extremamente perturbante.
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