Autobiografia de um leitor: influências concretas e materiais sobre a leitura e a escrita
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O presente abstrato se refere ao modo como a dimensão concreta da leitura e da escrita, especialmente os suportes materiais dos textos vieram a influenciar minha relação pessoal com a leitura e com a escrita. Antes de focalizar as maneiras a partir das quais a materialidade dos suportes dos textos condicionou a ‘internalização das técnicas” e a “externalização das práticas” de leitura e escrita, torna-se necessário explicitar que não adotarei a periodização de minha trajetória apresentada nas duas sub-seções anteriores, procurando ao invés disso, demonstrar as diferentes influências dos textos impressos e eletrônicos com os atos de ler e escrever, de modo a procurar da melhor forma possível marcar e interpretar minha trajetória.
No que diz respeito a minha relação com os textos impressos, pode-se afirmar que a leitura foi, ao longo do tempo se tornando mais material, ou seja, com o passar dos anos, adquiri o hábito de tomar nota enquanto leio, buscando inventariá-las em registros temáticos escritos em cadernos, registros estes classificados em ordem de leitura, autor e tema, de modo a compor uma espécie de arquivo em miniatura, no qual procuro armazenar os produtos de minhas reflexões acerca dos textos que considero mais importantes. Assim, cada leitura passou a requerer a elaboração de textos escritos, os quais vieram desta maneira a “emprestar materialidade” às minhas práticas de leitura, pois a estas encontram-se cada vez mais associadas práticas de escrita, que encontram suporte em textos impressos, que, quando lidos, podem revelar o modo como se deu minha leitura, contribuindo assim para externalizar tal prática mediante a análise destes registros concretos de minha trajetória.
Naquilo que tange à minha relação com o suporte eletrônico dos textos, cabe explicitar que, concordo com Roger Chartier (2001), quando este autor alude a uma “desmaterialização” das práticas de escrita, engendrada pelo advento da informática como auxiliar dos processos de redação de textos. No tocante à minha relação com os textos em seu suporte eletrônico, identifico três processos que ocorrem de maneira simultânea, seja no que se refere às práticas de leitura, seja no que se refere às práticas de escrita nesta nova dimensão da materialidade (qual seja a da chamada “realidade virtual”): 1) a escrita flui mais rápido, porém, como constato que as ferramentas de correção presentes nos programas editores de texto são precárias[1], escrevo sempre os textos em uma versão manuscrita, transcrevendo os para o editor de textos posteriormente; 2) com o advento da internet tive acesso a uma gama multivariada de textos e informações. Tendo em vista o fato de que vários excertos de textos eletrônicos oriundos da rede mundial de computadores podem ser copiados e aproveitados na íntegra, isto a meu ver contribui para que as práticas de escrita no suporte eletrônico possam caminhar em direção a uma passividade maior, no que tange à cota de esforço empregada na escrita; 3) enquanto outros utilizadores de salas de chat e programas de comunicação instantânea[2] relatam que seu modo de escrever se modifica quando são estabelecidas conversas com outros usuários da internet, eu, em contrapartida, acabo por manter a utilização de um estilo de escritaescrito similar à empregada ao redigir cartas conforme fazia antes de começar a utilizar estes programas de comunicação instantânea.
Os processos acima identificados demonstram o quanto, para mim, o suporte eletrônico dos textos contribuiu para a ‘internalização de técnicas” ampliadas de apreensão da informação presente em suportes “menos materiais”, bem como contribuiucontribuíram para a externalização de práticas de leitura e escrita não-lineares.
[1] Igualmente, tenho em conta a necessidade de não perder a destreza no emprego da técnicas gramaticais e ortográficas tão duramente obtidas.
[2] Como exemplo de comunicação online em termo real pela via de troca de mensagens escritas transmitidas pela internet destaco o MSN Messenger, produzido pela empresa Microsoft.
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