Reflexões sobre a Última Ceia
(Iam)
[BR] Sentado, ao centro da mesa, observava atentamente o grupo de amigos – o seu grupo. Aos poucos, constituíra uma “família” entre estranhos. Voltou-lhe a lembrança de quando retornara ao lar. A imagem nítida da mãe, ao vê-lo na soleira da porta, após o longo exílio. A alegria, resplandeceu-lhe o semblante. A Mãe. O reencontro, com os seus, fora caloroso. Ninguém lhe perguntara coisa alguma sobre o tempo que esteve ausente. Nada. Ficara muito tempo só, para sentir-se acompanhado – a Voz interior cada vez mais freqüente tornara-se imperativa. A experiência nas areias desérticas, ensinara-o a ser livre. Por que fora? Por que voltara? A sua busca não se esgotaria nunca? Pouco levara consigo, e o que trouxera não era tangível. O grupo sabia, a mãe sabia... O rumor das conversas à mesa, despertou-o dos devaneios. Percebeu o rosto de cada um, a procura de indagações. Estavam tensos e assustados, com exceção de J. Este confiava cegamente no Mestre, como lhe chamavam. O que esperavam dele? Seus ditos e feitos haviam cercado de mistérios a sua trajetória, que intrigava aqueles que lhe seguiam, em número cada vez maior. Esse era o ponto crítico – o que fazer com eles? O que fazer para eles? Ou, o que fazer através deles. Só estava seguro em relação à última questão. Tornara-se um líder num período extremamente delicado, no que se referia à situação política, e esta, não fora a sua proposta. Havia um equívoco neste sentido.[BR]A refeição chegava ao término, e a sensação era de vazio. Não poderia expô-los mais. Sabiam-no alvo, e dessa forma, sentiam-se alvo. Como nunca, sentiu um amor infinito por aqueles homens. E ao partir o pão, em seu íntimo, sentiu a dor em separar-se deles. Algo de essencialmente divino, transformara-o em essencialmente humano.
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