Folha de Sao Paolo
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Cólica forte em adolescente é primeiro sintoma da endometriose. parte II A observação é compartilhada pela Abend (Associação Brasileira de Endometriose), que, a pedido da Folha, analisou a faixa etária das portadoras que procuram ajuda. Levei um susto. Mais da metade tem até 25 anos e já sentia os sintomas há algum tempo, revela a presidente, Eleuze Mendonça. A idéia de que sentir dor ao menstruar não é nada demais é uma das razões do diagnóstico tardio -segundo estimativas do Nepe (Núcleo Interdisciplinar de Ensino e Pesquisa em Endometriose), meninas que começam a sofrer com os sintomas na adolescência chegam ao diagnóstico até 12 anos depois, quando muitos estragos já foram feitos ao corpo. O núcleo realizou na semana passada, em São Paulo, a 1ª Campanha Nacional de Esclarecimentos sobre a Endometriose, a fim de divulgar conhecimentos sobre a doença, que hoje atinge cerca de 6 milhões de brasileiras. No mundo, a marca é de 30 milhões. As causas do distúrbio seguem desconhecidas. Hoje, uma das teorias mais difundidas é a de que alterações do sistema imunológico levam o corpo a atacar partículas do endométrio arrastadas no refluxo do sangue menstrual para outros tecidos (leia mais no quadro na pág. 9), gerando inflamações crônicas que podem levar à adesão de órgãos. Fatores genéticos, estilo de vida, sedentarismo e alimentação inadequada potencializam o risco. Sempre tive cólica, mas, aos 16, piorou. Era uma dor diferente, aguda, parecia que me davam uma facada na barriga", conta a professora de matemática Karen Campitelli, 22, que tem endometriose e já se submeteu a uma intervenção cirúrgica para tratar a doença.Na cirurgia, ela teve de retirar o ovário esquerdo e um pedaço do intestino, que estavam danificados. A partir dos 16, era hospital todo mês. Tinha febre, passava mal onde estivesse, na rua, no ônibus. Era internada e me davam Buscopan na veia", lembra. Uma crise mais forte foi confundida com apendicite. Foi dessa vez, muitos anos depois de surgirem as primeiras cólicas crônicas, que ela descobriu o que tinha realmente. Passei por tanta coisa, fiz simpatia, pus garrafa quente na barriga, tomei tanto chá, tanto remédio. Ao mesmo tempo, tinha uma alimentação horrível, passava 12 horas na faculdade estudando, vivia estressada, só comia besteira, relata. Com o diagnóstico, veio o medo. Fiquei deprimida achando que ia ficar estéril. Mas a intervenção veio a tempo de afastar essa possibilidade. Hoje, Karen ensina: "Quem tem muita dor, dessas de não conseguir ir à escola nem fazer nada, tem que se informar logo cedo, ir ao médico, fazer exames. Eu achava que não precisava de ginecologista porque era virgem. Toda menina precisa. Hoje estou bem, feliz, noiva, sei que vou ter filhos. Faço ioga para afastar o estresse e vigio a alimentação. De lá para cá, já perdi 14 kg. O tempo de tratamento adequado é uma variável importante para evitar complicações na gravidez. Que o diga a relações públicas Lívia de Queiroz Soares, 23, grávida de sete meses. Esse bebê na minha barriga é um milagre. Cada vez que ouvi que talvez não pudesse ter filhos fiquei arrasada. Fui até Salvador com meu marido para fazer promessa, conta.Da primeira menstruação, aos nove anos e acompanhada de dores que ela descreve como insuportáveis, foram dez anos até receber o diagnóstico correto. As pistas sempre estiveram ali: além da dor recorrente, o fluxo era intenso e irregular. A cólica era incapacitante, eu não fazia mais nada, passava dias com as mãos suando de tanta dor. Aos 19, foi internada, também com suspeita de apendicite. Descobriu a endometriose, tratou-se e, mesmo assim, levou dois anos para engravidar. "Tem sido uma gravidez complicada, tive pressão alta, perdi líqüido amniótico. Mas o bebê está aqui, firme. Depois que soube o que tinha, Lívia fez campanha entre as amigas para que investigassem suas cólicas. Uma delas descobriu que também tinha a doença e nós passamos a nos dar forças, a cuidar juntas.
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