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As Velas Ardem até ao Fim
(Sandor Marai)

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O romance As Velas ardem até ao fim , do autor húngaro Sándor Márai, foi originalmente publicado em 1942. Trata-se de uma das obras-primas da Literatura Húngara do século XX. Em Portugal, foi editado em 2001 sob a chancela da Dom Quixote. [BR]A acção do romance (tratar-se-á de uma novela?) inicia-se com o reencontro de dois amigos de juventude, que se haviam afastado quarenta e um anos antes em circunstâncias trágicas. A cena desenrola-se numa só noite, num velho castelo localizado no sopé dos Montes Cárpatos que pertence a Henrik, antigo general do Império Austro-Húngaro, que recebe o seu antigo companheiro de armas, Konrad. A secreta relação amorosa que Krisztina, mulher de Henrik, manteve com o sensível Konrad termina quando este subitamente abandona Viena e ela se suicida. Henrik descobre, com surpresa, a dupla traição de que fora vítima e daí em diante a sua vida perde a sua raison d’être e torna-se um deserto existencial.[BR]A reconstituição, ou a interpretação, que Henrik consegue fazer da relação assolapada (a palavra “assolapada” significa escondida e não inflamada) entre Konrad e Krisztina é fragmentária e insatisfatória – em caso algum é possível reconstituir a “verdade” dos factos. Mas o que mais angustiara Henriki foi não compreender os incompreensíveis sentimentos que moveram os dois amantes e os levou à traição. A mestria da técnica narrativa de Marai não reside no facto de os acontecimentos do passado serem narrados em analepse quarenta e um anos depois, mas antes no facto de, no reencontro dos dois homens, a reconstituição ser feita por aquele que dos três menos sabia do que se havia passado e que desconhecia os motivos e os sentimentos que levaram os outros dois à traição – como se tais motivos e sentimentos fossem verbalizáveis. Quando o previsível seria que Konrad preenchesse, durante a conversa, os vazios do passado e avançasse explicações, Márai opta por limitar a personagem a curtíssimas (e nada esclarecedoras) falas ao mesmo tempo que decide que a recriação fragmentária de Henrik esteja despida de uma curiosidade tensa e de perguntas insistentes – há muito que este havia deixado de querer ver esclarecidas as suas dúvidas, porque as respostas já não o fariam recuperar o sentido que a sua vida tinha perdido. [BR]Um outro aspecto central da narrativa, menos tocante mas não menos interessante, encontra-se no paralelo que é traçado entre a decadência do Império Austro-Húngaro e o percurso trágico das três personagens, que representam metonimicamente aquela nação. A pátria prestes a desabar assiste à perda de influência da nobreza e do exército, ao carácter obsoleto dos valores da nobreza (hierarquia, honra, patriotismo, etc.) num mundo em mudança (início do séc. XX), à emancipação da mulher – questões subterrâneas mas marcantes na relação das três personagens. Sendo homens do seu tempo, Henrik e Konrad não conseguem sobreviver ao colapso desse mundo. Por isso, quando se reencontram, em 1941, são já dois anacronismos, dois simulacros (para usar o termo de Baudrillard) num mundo que está numa nova transição – note-se que a Grande Guerra que então se trava nunca irrompe na conversa dos dois antigos soldados. Para além de estarem interiormente mortos também o estão ontologicamente, porque a realidade em que vivem deixou há muito de ser a sua.[BR]



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