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PALAVRA E VERDADE NA FILOSOFIA ANTIGA E NA PSICANALISE
(LUIZ ALFREDO GARCIA-ROZA)

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e a Escuta do Logos


In: GARCÍA-ROZA, Luiz Alfredo. Palavra e Verdade na Filosofia Antiga e na Psicanálise. 4.ed.Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001, pp. 41-46.
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Sobre o autor:

O filósofo e psicólogo Luiz Alfredo Garcia-Roza é um produtivo escritor, inclusive no mundo literário, tendo já recebido diversos prêmios, incluindo o Prêmio Jabuti. Ele criou um programa de pós-graduação em Teoria Psicanalítica na UFRJ, ganhando grande destaque no meio acadêmico devido seu projeto inédito no Brasil.

Sobre a obra:

À obra referenciada nesta resenha foi publicada em 1990, mas utilizaremos a quarta edição que data o ano de 2001, um pequeno livro em estrutura de brochura, que mede 14x21 cm, composto de 108 páginas, editadas pela Jorge Zahar editor, mesma editora de pelo menos três livros citados pelo autor neste trabalho. Como o próprio título da obra indica, o tema da mesma está nas dimensões das interelações entre a Filosofia, a Psicanálise e a Lingüística.
Nossa análise nesta resenha ocupar-se-á exclusivamente da quarta divisão do livro (Garcia-Roza não divide a obra em capítulos), intitulada Heráclito e a Escuta do Logos, onde o autor desenvolve um pensamento que é apontado nos últimos parágrafos da terceira parte que trata da figura de Parmênides. Trata-se de um breve texto com apenas 15 parágrafos, nos quais a figura central é o filósofo do devir.
Iniciando sua reflexão, o autor chama à atenção para uma similaridade entre os pensamentos filosóficos de Parmênides de Eléia (c. 530-444 a.C.) e Heráclito de Éfeso (c. 535-475 a.C.), reconhecendo a convenção que se tem na distinção dos mesmos em relação à questão do tema mobilidade/imobilidade.
Em seguida, ele demonstra que em ambos os filósofos, a palavra está relacionada com o enigma e com o silêncio essencial, e os dois trabalham num “estatuto da palavra e da verdade”.
Dando seqüência ao seu pensamento, Garcia-Roza enfoca nos próximos parágrafos o fragmento 123 da obra Peri physeos, que traduzida do grego significa “sobre a natureza”, afirmando que este texto em prosa provavelmente tenha sido composto pelos discípulos do filósofo de Éfeso e não por ele mesmo.
Então, analisando este pequeno trecho do pensador, o autor recorre à tradução que G.S. Kirk e J.E. Raven, em Os filósofos pré-Socráticos, em 1979 oferecem à sentença grega: Physis kryptesthai philei: “A verdadeira constituição das coisas gosta de ocultar-se” e a proposta do existencialista francês Jean Beaufret (1907-1982) como: “A natureza gosta de esconder-se”, mostrando que o tema deste trecho é a característica de revelação e ocultamento da verdade.
Consciente da distinção entre physis e a alétheia, Garcia-Roza busca apresentar a interelação entre estas duas palavras, ressaltando a diferença no sentido que empregamos à primeira e seu sentido original no mundo grego. E nesta dimensão, cita Heidegger (1889-1976), que em Essais et Conférenses traduz physis por “emergência”, no sentido de “surgimento”, sendo portanto o termo para a ação sempre incompleta de emergir e não para o objeto que emerge, pois tanto quanto a alétheia, “o desvelar gosta de esconder-se”.
Desta forma, na conclusão do autor, tanto a physis heraclitiana e alétheia paramenidiana tem a característica doenigma que oculta e revela ao mesmo tempo, o que já indicada pelas obras homônimas dos dois.
Após tais considerações, Garcia-Roza lembra o leitor de que o vocábulo utilizado nas discussões heraclitianas não era nem alétheia e nem physis, mas sim o logos, já definido como “razão”, “sentido”, “palavra”, “discurso”, “lei do pensamento” e “lei do mundo”.
Ele cita um trecho do Fragmento 50, onde Heráclito incita seus discípulos à escutarem o Lógos e Heidegger que define etimologicamente o termo logos, procedente de legein, que significa “dizer e falar”, mas também ambiguamente “pousar, estender diante e recolher”. Ou seja, falar, mas também escutar o logos.
O autor ainda aponta o fato de que Heráclito afirma que escutar o Logos depende não da captação auditiva somente, mas captar o pouso e o recolhimento do Logos, interagindo com ele e selecionando aspectos importantes.
Em seguida, Garcia-Roza volta a atenção sobre a diferença entre o logos e o Logos, afirmando que o sentido da segunda transcende a primeira e “nomeia o devir e o ser do devir”, não havendo distinção em Heráclito das palavras e das coisas, tendo propriedades comuns de um desvelar que se vela, carentes de decodificação.
Desta forma, o autor mostra que ambos os filósofos abordados, se apresentam como mestres dotados com uma palavra obscura e enigmática, apesar de verdadeira, uma vez que mesmo o Mestre está sujeito à este “jogo de desvelamento e velamento”, pelo que o epíteto de “O Obscuro” dado à Heráclito é resultado da atribuição daqueles que confundiam a verdade com a objetividade.
Concluindo, o escritor demonstra que para se descobrir a verdade, o ouvinte não pode fixar-se na exterioridade do dizer, mas mergulhar no sentido mais oculto, fixando-se no próprio dizer em busca da verdade que ao mesmo tempo transparece e se oculta no devir, percebendo o algo que se faz presente no aparecer, mantendo-se oculto e recusando definitivamente a voz única (univocidade) da palavra.



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