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A Arte Engajada em Três Autores de Língua Portuguesa
(Márcia Elizabeti Machado de Lima)

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Tomamos como corpus deste trabalho, três poemas de dois autores brasileiros e um português, quase contemporâneos entre si, que buscam através de suas obras, a desalienação e o diálogo com o leitor, e ao mesmo tempo, contestam o trato puramente ficcional que alguns colegas escritores dão às obras literárias, disfarçando-se, como diz Saramago, no que chamam de escuridão criadora. Nos poemas, aqui estudados, o que impera é a chamada para que o escritor produza, sempre, vinculado ao lugar sócio-histórico que ocupa. Novamente, lembrando Saramago, que assim se expressa a respeito do papel do escritor e ao direito de tornar público o que produz, ...uma vez que tem esse enorme privilégio, tem também enorme responsabilidade.
Poderíamos iniciar por qualquer um dos três poetas em questão: Manuel da Fonseca, português, Ferreira Gullar e Carlos Drummond de Andrade, brasileiros. Optamos pelo último.
Modernista da 2ª fase, nosso poeta mineiro teve a oportunidade de viver os grandes acontecimentos nacionais e internacionais do século XX: a crise econômica de 1929, a Segunda Grande Guerra, a Revolução de 30... No poema Mãos Dadas, Drummond define a preocupação e a temática da geração de 30, marcando o início de uma nova etapa na poesia moderna, poetisa que escrever sobre o passado ou ficar, apenas, sonhando com o futuro, é uma forma de fugir da responsabilidade social: O presente é tão grande, não nos afastemos..., percebe-se também, a valorização do coletivo em oposição ao individualismo: não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas. Critica a postura evasiva, transcendente, dando mostra de um Eu-lírico de ação, integrado com o mundo, e que faz da poesia ferramenta de luta: não fugirei para as ilhas, nem serei raptado por serafins / O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, / a vida presente.
Parafraseando Abdala Júnior, convém lembrar que o efeito artístico-ideológico da estratégia de Drummond em torno do tempo presente, envolve a tudo, matéria e referente histórico. E, apesar de envolver um leitor contemporâneo, seu poema não se restringe temporalmente.
Entre os autores portugueses engajados, há que se dar destaque ao neo-realista Manuel da Fonseca, para aludirmos a ele, partimos do poema Antes que seja tarde. O texto inicia-se com um vocativo que denota um chamamento aos poetas descompromissados, alienados dos problemas reais: Amigo,/ tu que choras uma angústia qualquer... E no decorrer de todo o poema, os verbos na forma imperativa, soam como uma ordem à tomada de consciência: acorda, deixa, liberta-te, abre os braços, luta, nasce... . Outro aspecto importante no poema, é a referência ao mito de Narciso, nos versos: Deixa de vez/ as margens do regato solitário/ onde te miras/ como se fosse a tua namorada. Uma forma de dizer deixe de olhar para o próprio umbigo.
Na mesma linha de engajamento sócio-artístico, temos o brasileiro Ferreira Gullar, que com sua poesia de denúncia rompe com o Concretismo e o Neoconcretismo e posiciona-se contrário à arte como fim em si mesma. No conhecido poema Não há vagas, ao falar do que não cabe no poema, e aludir ao que cabe: O homem sem estômago/ a mulher de nuvens..., Gullar aproxima-se de Fonseca: Liberta-te dessa paz podre de milagre que existe/ apenas na tua imaginação. Enfatiza a inoperância da arte não comprometida, mostrando toda a sua imaginação: O poema, senhores,/ não fede/ nem cheira. É como se dissesse, as palavras do poeta ecoam no vazio, como se fosse mudo, porque não traz nenhuma mensagem significativa.
Assim, vimos através desse recorte, uma pequena mostra do engajamento de autores da literatura de língua portuguesa, que se comportam como atores sociais ativos.



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