A morte é uma festa
(Reis; João José)
Reis, João José: A morte é uma festa (Ritos fúnebres e revolta popular no Brasil do Séc. XIX. Cia das Letras, S.P.1991Resumo de Jandy Trata-se do estudo de um fato ocorrido na Bahia do séc. XIX, quando uma multidão destruiu um cemitério recém-construído por não concordar com a nova lei de que os mortos deveriam ser enterrados em cemitérios e não mais em igrejas como era feito até então. A partir desse episódio o autor pesquisa a vida e a morte dos baianos, isto é, suas atividades e cotidiano, suas considerações a respeito do que eles mesmos chamavam a "Boa Morte", bem como a participação em confrarias religiosas (instituições que tomara à frente na resistência contra o Cemitério Campo Santo. Na Europa do Séc. XVIII e XIX também ocorre reações á fechamentos de igrejas como cemitérios, pois lá esse procedimento era visto como uma estratégia de salvação da alma. Havia também estratégias do bem morrer, quando os procedimentos para salvar a alma vão da leitura do testamento ao ato de extrema-unção, passando pela escolha da mortalha, arrumação da casa para o velório, convites para o enterro, missas de encomendação das almas, o leito, as velas, etc... Mas, no nosso livro, a Lei Provinçal de maio de 1835 concede o monopólio dos enterros á empresa dos cemitérios da cidade, e aí, juntam-se mais de mil pessoas, abaixo-assinados,irmandades, denunciando os interesses particulares dos empresários de monopolizarem os enterros em Salvador e pedindo a revogação da Lei 17. A destruição do cemitério em defesa de uma tradição religiosa fez com que o governo provincial rediscutisse a concessão do Campo Santo e em maio de 1837 era revogado o monopólio dos enterros; o governo compraria o que havia sobrado do cemitério onde seriam sepultados todos os mortos da Santa Casa, bem como indigentes e escravos. E nas Igrejas, apesar de todo o trabalho dos médicos em conscientizar sobre os perigos exalados pelos cadáveres putrefados nas paredes e chão das Igrejas, ainda assim as confrarias continuavam mantendo o ritual até que uma epidemia assolou a província matando a maior parte dos habitantes. A partir daí a população se desvencilhou dos mortos, deixando a maioria sem sepultamento por ameaça de morte. O governo novamente proibiu o enterro nas Igrejas e dessa vez ninguém protestou. Os mortos seeeeriam enterrados no Campo Santo e em outros cemitérios construídos pelas irmandades já que o monopólio havia acabado e o negócio era a livre concorrência. E a morte passa a ser pensada como a separação definitiva entre os vivos, sem estratégias de prender o morto ao mundo dos vivos, a não ser pela memória. Através dessa divertida narrativa da Cemiterada é representada a realidade social de um povo onde se misturam ignorância, crendices, ganâncias, poder, fé. São gestos insignificantes que formam e interpretam a cultura popular desse povo, que se une em função da manutenção e continuidade de seus valores sociais e culturais, como se esses valores fossem responsáveis pela vida dessa gente ("Boa morte"). E somente o mito maior do castigo de Deus consegue a aquiescência do povo que abandona os valores até então sagrados. Deus estava irado com essa intromissão no mundo dos mortos e queria que os baianos os deixassem em paz...
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