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Porque nos invadem os espanhóis na Páscoa?A pergunta é, como agora se diz, recorrente. Desde há anos que é assim. Não há novidade. As viagens de prazer são apanágio dos ricos. É só isto. O que é muito. Conheci Pilar Moreno quando tinha 90 anos. A senhora viveu a Guerra Civil espanhola na forma dolorosa de saber que o marido, militar, fora assassinado pelas costas. Ficou sózinha com quatro filhos. "Tirou prá frente", como dizem os espanhóis. Montou um negócio. Afamado. Um colégio privado, mais científico que de boas maneiras. Idosa, Pilar mantinha os gostos da vida. Lia com uma lupa e reconfortava os achaques da velhice com sorvos de pássaro de Oporto, como em Espanha é apelidado o vinho dos vinhos. Pilar Moreno tinha várias netas que andarma pelo mundo. E namoraram. Havia um familiar japonês. Outro norte-americano. Um holandês. E um português." Eras más muestro", dizia-me cada vez que lhe oferecia um "ruby", um Porto. "Más nuestro", mais próximo. É por isso que os espanhóis vêm a Portugal. Por afecto. Questão de conforto. para oe spanhol ir a França é visitar a casa do vizinho de cima, o que é sempre incómodo. Mas não nos enganemos. Vêm aqui porque Portugal é mais barato que a França. Economia e acolhimento mandam. Neste dias, vejo-os desembarcar nas praias, entrar nas lojas, revolucionar nos restaurantes com os seus risos e vozes estridentes. Geralmente os espanhóis vêm em grupo não se dilui a sua identidade. Não é dramático ou patológico. è a sua forma de ser. Porque estão tão felizes? Porque a vida lhes corre bem. Tão simples como isso. Há nuvens em Espanha ou nas Espanhas? Claro que há. Mas,quando o descalabro já foi anunciado e não ocorreu, vive-se o momento. Sem a ansiedade de ser o último comboio. Mas com a certeza de ser mais um trem. Uma iniciação à rotina da felicidade. Este hábito tem datas: a Páscoa é a primeira escapada do ano. O Carnaval não dá direito a feriado. Mas agora , os miúdos estão de férias, as empresas facilitam e até a política "mete baixa". Outras escapadas haverá. No calendário espanhol as "pontes" não precisam de engenheiro. Basta o bom senso. Depois da Páscoa há a "ponte" de Maio, as férias, o "aqueduto" da Constituição, o Natal, o fim de ano. Agora é a Páscoa. De quase 600 procissões num país que o Vaticano teme que se paganize. Saem andores, virgens, sacerdotes sempre com multidão. De devotos ou curiosos. É a Semana Santa que o bem-estar transformou em oito dias de mudança de vida. É uma santa semana. Para os espanhóis. "Crónica de Nuno Ribeiro"
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