Num triste dia, um homem perdeu seu emprego... Seu nome era Justino e já trabalhava há alguns anos na linha de montagem de uma grande fábrica de automóveis. Sua função, que era a de parafusar (ainda à chave de fendas) as maçanetas de subir e descer o vidro das portas dos carros, exigia bastante rapidez, daí ser ele considerado mão-de-obra especializada. Como a fábrica primava mais pela especialização que a divisão do trabalho, Justino não arranjava um novo emprego em canto algum pois só sabia fazer aquilo. Era mais uma vítima do Capitalismo pagando seu alto preço por uma especialização imposta. Com cinco filhos e a mulher para criar e já cansado de procurar trabalho dentro do seu ramo tentou outras profissões. Um belo dia, quando passava defronte a uma loja de material para pesca, viu um cartaz de ´Precisa-se de Vendedores`. Até aí tudo bem mas o dono exigia experiência no ramo. _ O senhor é que é o dono? Perguntou Justino meio acanhado. _ Depende! Se for cobrador, não! Sendo qualquer outra coisa, sou eu mesmo. _ É a respeito do emprego... _ Já trabalhou onde? _ Numa fábrica... _ De anzol, ou coisa parecida...?! _ Não... de automóveis. _ Xiii meu filho... isso aqui não é pra você, tá bom? Só conhecendo a mercadoria, tá? Pega o beco, vai... tenho muito o que fazer. _ Mas... senhor... falou cabisbaixo Justino pausada e humildemente. _ Diga logo, homem! Desembucha, vai! _ Eu tenho uma necessidade... falou em um tom tão firme que arremessou ao ar alguns pêlos do velho mascate. Continuou Justino na tentativa de justificar a superioridade da necessidade perante a experiência... Falou que há seis meses não achava trabalho algum e que suas economias só davam pra mais uns dez dias... Via-se desesperado só com a possibilidade de ver sua família passando precisão... falou de tanta coisa triste que... _ Sendo assim meu filho... dou-lhe uma semana e nada mais. ´Resmungou` laconicamente e, dando as costas, saiu alegando ter caído um argueiro em seus olhos... Justino não se continha de tanta alegria! Correu em busca do gerente e em pouco tempo já estava por detrás do balcão com os olhos a brilhar feito bunda de vaga-lume no escuro. Tempo vai... tempo vem... e nada de freguês... final de mês é assim mesmo... quando, aqui e acolá, um gato pingado aparecia, já tinha seu vendedor certo. Quando lá pelas tantas, já perto de se fechar a loja, o olho crítico do gerente avista o noviço a conversar com um transeunte à beira da porta... eles entram e Justino se põe a postos do outro lado do balcão. Ele lhe mostra vários anzóis e o freguês escolhe alguns... Depois a linha de nylon, a chumbada e o caniço. _ Já pensou na hipótese de não ter peixe na beira d´água? Indagou cheio de bisonhice porém destemidamente! Assim, convincentemente, empurrou goela abaixo um molinete de qualidade, mais linha, isca artificial, faca com escamador, samburá, etc. O gerente não tirava o olho ao ver o balcão ficando pequeno. _ E se por um acaso a maré não tiver pra peixe... seria bem interessante um barquinho... pois lá pro fundo é que tão os grandões, o senhor não acha? Argumentava Justino gesticulando muito e quase encostando os cantos da boca nas orelhas. _ Deveras, uma ótima idéia meu caro! Estou até me sentindo mais jovem! Não q´eu esteja velho... _ Agora... - complementou Justino - se me permite a intromissão de quem ´entende do assunto`... caso, nem no fundo, não apareça nenhum peixe, e... caso seu barco tivesse um motor...bem que poderiam todos fazer um belo passeio pela costa...que tal? Não seria ótimo?! E lá se foi mais uma venda efetuada para regozijo do gerente e do próprio dono que já se punha atento e babando de tantas perspectivas de lucro. _ A propósito, Sr. Valdez, o seu automóvel tem guincho na traseira? (...) Ufa, ainda bem que sim pois me lembrei que a lancha não anda sozinha no seco (risos!)... temos aqui um belo reboque com um preço convidativo... Depois de tantos ´quanto custa?` de lá e ´é tanto...` de cá, findou-se por comprar do anzol a uma lancha com reboque e tudo mais!!! Após a saída do pingue freguês o proprietário mandou baixar as portas dando início a uma reunião de urgência:_ Como é que pode...? - Bradava de satisfação o lojista - Uma pessoa que nunca trabalhou com vendas...!!! Chega aqui um freguês procurando por um anzol e ele lhe vende todo um arsenal de pesca inclusive uma lancha!!! _ Bem... não foi bem assim chefe... ele chegou pra mim pra perguntar onde é que havia uma farmácia... _ Não me diga...e aí...?! Perguntava curioso o comerciante. _ Aí eu apontei a direção... só que, sabe como é né... conversa vai, conversa vem e ele me disse, meio chateado: _ Pois é meu amigo... minha mulher está naqueles dias! Que droga, logo numa sexta-feira...! _ Foi aí chefe q´eu aproveitei o gancho e comentei: Já que seu fim de semana tá perdido... que tal uma
[email protected]