UM LIVRO DE IMAGEM E VIDA (“Como é doce todo o conhecer! Só estás vivo enquanto descobres. Consola-te, porém: Infinito é o texto, e sua melodia, feita de... estrelas.” (C. Morgenstern, 1871?1914). Do que trata este livro? Eu li o título e fui informado de que “O Livro-de-imagem” é “um (pre)texto para contar histórias”. Em seguida, li o livro e concluí que ele é um pretexto para falar de vida(s). No primeiro caso, o livro-de-imagem. No segundo, a (minha) imagem do livro. Como cabe ao leitor completar a obra escrita, fico com o que me diz respeito, na qualidade de “co-autor”. Jogos de presunção e de palavras à parte, eis aqui um livro que trata de vida (a educação deve ser um “jogo de vida”, disse Freud) e a importância da luz nela. Luz, aqui, não a radiação, mas claridade, iluminação. Luz da aprendizagem, do conhecimento, do desenvolvimento, do saber, da educação. Educação, que é a consciência com ciência e açúcar. “A verdadeira e definitiva redenção está no conhecimento” (Reyes). Esse foi, esse é, esse continuará sendo o mister e o mistério dos professores: ser vela e espelho --- produzir, transportar, refletir luz. Ser pequena base, miniposte. Objeto de reflexo, agente de reflexão. Facho ou archote, farol ou tocha, lâmpada ou lanterna, candeio ou luzeiro, faísca ou fagulha, fogo ou fátuo, vívido ou anêmico, menor ou maior, o professor é o “phospóros” da humanidade. Acender para ascender, pois“a aquisição da sabedoria é melhor que a das pérolas” (Jó, 28, 18). Entre tantas coisas em que é, Tereza Breves, a autora deste “O Livro-de-imagem: um (pre)texto para contar histórias”, é mestra, professora, pedagoga, educadora. E é isso porque quer (ser), porque sabe (fazer), porque sente (prazer). Vontade, conhecimento, emoção --- mais o quê? (...) Se “lúdico” tem a ver com brincar, “lúcido” tem a ver com brilhar. Lucidez e luz vêm da mesma gravidez radical: o prefixo latino “luci-”. Quando um ser humano apreende um momento de aprendizado, seus neurônios, estimulados, emitem luz. Descarregam eletricidade quando se carregam de conhecimento, ao se conectarem uns aos outros ? como a dizer, por esse epidérmico exemplo de neurofisiologia, que aprendizado é contato, desenvolvimento é envolvimento, conhecimento é construção (e re/distribuição) social, solidária, e não tarefa unipessoal, solitária. O fisiológico confirma o ideológico. Essas conexões (as sinapses), espécie de ósculos interneuronais, são verdadeiros toques de luz. Isto é fato --- e, como dizem os franceses, “les faits son fait”. (...) Educar-se é tomar conta de si, é ter ciência e consciência de si em relação ao outro, com o outro. Educador, já se viu, é um (inter)mediador de re(ve)lações. No processo de aprendizagem, a apropriação da realidade externa só se dá pela desocultação apropriadora --- e sua explicitação confirmadora --- da potencialidade interna. Portanto, educar é, desde a origem da palavra, conduzir para fora, é fazer sair de dentro o que um ser já é, latentemente. “Nada há nada na inteligência que não tenha estado primeiro nos sentidos” --- é Locke, alertando-nos desde o século 17. Para mediar/facilitar essa conexão entre sentido e inteligência da criança e contribuir para seu “desencasulamento” (“A criança é um casulo, apenas” --- Humberto de Campos), Tereza Breves dedicou-se durante seis meses a diversas crianças, em uma tarefa educacional que, ao mesmo tempo, como ciência, exigia rigor e controle, e, como arte, pedia amor e espontaneidade. (...) Educação. Mais processo que projeto (de vida). Mais caminhar que chegar. É o percurso, não o destino. O desafio, não a conquista. O jogo, não o resultado. Desejo, não posse. Vida, não morte. À maneira de Hegel, quem se satisfaz, se perde. Educação: esforço, conquista, recomeço --- um nunca acabar. Tarefa de Sísifo, trabalho de Hércules, teia de Penélope, fio de Ariadne, novelo que se vai desenrolando para orientar os Teseus nos labirintos --- tantos... --- da vida real. Do mito ao rito. Do oculto ao clarificado. Da brincadeira à consciência. Do lúdico ao lúcido. As palavras não mentem: as páginas deste livro abrem-se para um jogo. Um jogo de luz. Luz! “Mais luz!” Goethe sabia. Edmilson Sanches (
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