bioética na amazônia
(luiz marques)
A floresta da Amazônia “pode transformar-se em deserto” e isto pode acelerar o aquecimento globa
A vasta floresta da Amazônia está a ponto de se tornar em um deserto, com catastróficas conseqüências para o clima do mundo todo. É o que sugerem novas pesquisas. E o processo, que seria irreversível, pode começar já no próximo ano.
Estudos realizados pelo Woods Hole Research Centre, de Massachusetts, realizados na Amazônia concluíram que a floresta não pode agüentar mais que dois outros anos consecutivos de seca sem entrar em colapso. Cientistas dizem que isto expandiria a seca para o hemisfério norte, incluindo a Grã-Bretanha, o que pode acelerar decisivamente o aquecimento global, deixando fora de controle um processo que pode redundar em um mundo inabitável. A pesquisa, realizada pelo The Woods Hole Centre, em sua base de Santarém, às margens do rio Amazonas, tomou de surpresa até mesmo os cientistas. Quando o Dr. Dan Nepstead começou o experimento em 2002, cobrindo com painéis de plástico um tufo de floresta do tamanho de um campo de futebol, para ver como ela se comportaria sem chuva, cercou-a com sensores sofisticados na expectativa de detectar mesmo alterações menores. No primeiro ano, as árvores conseguiram resistir à seca sem dificuldade. No segundo ano, afundaram ainda mais suas raízes para encontrar umidade, mas sobreviveram. Mas no terceiro ano, elas começaram a morrer, a começar pelas árvores mais altas, expondo a floresta ao sol. No final do ano, as árvores tinham liberado mais de 2/3 do dióxido de carbono por elas armazenado durante suas vidas, atuando como refreadoras do aquecimento global. Elas agora começaram, ao contrário, a acelerar a mudança climática. A Amazônia está agora enfrentando seu segundo ano sucessivo de seca, o que leva à possibilidade de que ela possa começar a morrer no próximo ano. A imensa floresta contém 90 bilhões de toneladas de carbono, o suficiente para incrementar a taxa de aquecimento global em 50%. Dr Nepstead prevê "mega-incêndios" rapidamente por toda a floresta. Com o fim das árvores, o solo será transformado em deserto pela ação do sol. A Dra. Deborah Clark, da University of Missouri, uma das mais renomadas ecologistas da floresta, afirma que a pesquisa mostra que “a fechadura foi quebrada” ("the lock has broken") no ecossistema da Amazônia. Ela acrescenta: a Amazônia tomou um terrível rumo. (...) Dia após dia, as águas do Amazonas recuam, ameaçando uma catástrofe global. Segundo as conclusões de um recente Simpósio sobre o Rio Negro, o aquecimento global e o desmatamento estam levando rapidamente a enorme área florestal a seu “ponto limiar” ("tipping point"), para além do qual ela começaria irreversivelmente a morrer. A úmida Amazônia, a maior celebração de vida do planeta, tornar-se-ia em uma savana seca, na melhor das hipóteses, e, na pior, em um deserto. Isto fará com que o mundo torne-se mais quente e mais seco, fazendo os escaldantes verões recentes parecerem um aperitivo suave do que está para vir. (...) As águas dos rios da bacia amazônica baixam rotineiramente de 10 a 12 metros a mais que a maioria das marés do mundo, entre as estações úmidas e secas. Mas no ano passado elas não pararam de baixar, na pior seca de que se tem registro na história. Na Reserva Mamiraua, elas caíram 17 metros, 5 metros abaixo do nível baixo usual e outras áreas foram afetadas ainda mais intensamente. Em um ponto, no estado do Acre, o maior rio do mundo encolheu tanto, que era possível atravessá-lo a pé. Milhões de peixes morreram; milhares de comunidades, cujo único meio de transporte é o rio, ficaram ilhadas. E a floresta ressecada pegou fogo. Em um ponto, em setembro, imagens de satélites detectaram 73.000 focos de incêndio independentes na bacia amazônica. Sobrevoando a floresta – com árvores a perder de vista – parece inconcebível que algo possa pôr em perigo esta imensidão verde. Atérecentemente, cientistas eram desta opinião, e a viam como um dos meio ambientes mais estáveis do mundo. Embora eles condenassem a prática de derrubar por ano uma área, em média, equivalente ao País de Gales, isto não parecia ameaçar a floresta como um todo, e muito menos o inteiro planeta. Agora, eles estão mudando de opinião, em face da crescente evidência de que o desmatamento está levando a Amazônia e o mundo à beira do desastre. O Dr. Antonio Nobre, do Instituto Nacional da Amazônia, do Brasil, relatou ao Simpósio de Manaus suas pesquisas ainda não publicadas, as quais sugerem que o desmatamento está secando a inteira floresta e associando-se às causas dos furacões como os que assolaram os EUA e o Caribe. Marina Silva, atual Ministra do Meio Ambiente, descreve como o Governo desbaratou o desmatamento pela apreensão de madeira ilegal, fechando as madeireiras ilícitas, multando e prendendo os transgressores. Como resultado, ela afirma, o desmatamento caiu em 31% no ano passado. Mas mesmo assim, ele apenas caiu para os níveis de 2001, ainda o dobro do que era há 10 anos. E o desmatamento adentrou profundamente a floresta, depois que a multinacional americana Cargill construiu há três anos um gigantesco porto para o escoamento da soja em Santarém, a 400 milhas (650 kms) de Manaus. Isto encorajou os empresários a cortar a floresta para plantar soja. O Simpósio deslocou-se em massa para inspecionar o dano causado por este porto: vastos campos de grãos destinados a alimentar o gigantesco mercado de frangos na Europa, avançando sobre áreas onde até recentemente havia floresta virgem. Padres e líderes comunitários que lutam para proteger a floresta contaram-nos como vêm recebendo reiteradas ameaças de morte. Até agora, algo como um quinto da floresta da Amazônia foi completamente devastada. Outros 22% foram danificados pela ação das madeireiras, permitindo ao sol atingir e secar o chão da floresta. A se somarem estes dois percentuais, o total aproxima-se perigosamente dos 50%, número que os modelos computacionais apontam como o “ponto limiar” ("tipping point") que marca a morte da Amazônia. Os modelos não previam que isto ocorresse antes de 2050. Mas o Dr. Nobre afirma: “o que estava previsto para 2050 pode ter começado a acontecer em 2005”. Ninguém sabe quando o limiar crucial terá sido ultrapassado, mas um número crescente de cientistas acredita que ele está se aproximando sempre mais. Um dos colegas do Dr. Nobre, Dr. Philip Fearnside, colocou a questão deste modo: "A cada árvore que cai, aumentamos a probabilidade de chegarmos ao ponto limiar." Os políticos brasileiros dizem que o país tem tantos outros problemas prementes, que a destruição não será provavelmente colocada sob controle, a menos que o mundo ajude a pagar pela sobrevivência da floresta da qual ele também depende. Segundo os cálculos de Hylton Philipson, um banqueiro britânico e ativista pelas florestas tropicais, esta ajuda custará 60 bilhões de dólares (23 bilhões de libras), menos de um terço do custo da guerra do Iraque. Os cientistas insistem que não há tempo a perder. "Se não agirmos agora”, diz o Dr. Fearnside, "perderemos a floresta da Amazônia que ajuda a sustentar as condições de vida do mundo inteiro."
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