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O Teu Rosto Amanhã - Febre e Lança
(Javier Marías)

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Este não é um livro fácil. Ao contrário de muitos outros, não pode, ou não deve, ou não se recomenda, que sirva para momentos de descontracção – porque é demasiado rico, consistente, e porque contém em si, na sua essência, algo que muitas vezes desprezamos: o “valor” da palavra.
Não é por acaso que Javier Marías começa pela frase que poderia ser talvez um fim e não um início, por conter em si uma espécie de consequência: «Uma pessoa nunca deveria contar nada (…)». Digo consequência porque esta frase poderia ser uma forma de conclusão, um pouco como “se eu não tivesse contado, isto não se teria passado”; mas a abertura com esta frase parece, pelo contrário, alertar-nos à partida para o valor e a importância daquilo que dizemos, e para as palavras que usamos para ilustrar, para materializar o que pensamos.
O teu rosto amanhã – Febre e Lança é um livro de sentidos, de semânticas – porque cada palavra é distinta de uma outra. Poderá ter semelhanças, mas nunca será uma substituta perfeita, porque o seu valor é único – daí a razão de Jacques Deza procurar sempre mais uma alternativa, uma outra forma de dizer, de transmitir, e com isso tentar trazer mais fidelidade à fala como expressão de pensamento. E não foge à regra quando a tradução está na linha da frente – cada palavra é analisada minuciosamente, descortinando nela não só os valores naturais, como também os valores ocultos que poderá comportar, aqueles que muitas vezes pretendem, de facto, ser deixados escondidos.
É nesta fase que nos aproximamos à intriga, por assim dizer, deste livro: ver o que está “por detrás do pano” de personalidades influentes, apenas com o seu discurso e a sua presença, isto é, avaliar aquilo que alguém pretende ocultar através do que diz e da sua postura em presença; porque também o corpo fala, ainda que não o queiramos, e muitas vezes é através dessas “deixas” que nos desmascaramos.
É este o caminho que levará Jacques Deza a ser integrado num estranho e misterioso grupo que avalia gente distinta, influente na sociedade inglesa (e não só), de modo a “conhecê-los por dentro” e a avaliar as suas atitudes e reacções face a determinadas circunstâncias. É neste percurso sinuoso e nas intermináveis conversas com Sir Peter Wheeler que Javier Marías acompanha Jacques Deza numa pesquisa histórica assinalável que, como não poderia deixar de ser, se demora no longo período entre as duas Grandes Guerras, com especial incidência para a não menos famosa Guerra Civil de Espanha. E, uma vez mais, Wheeler e Deza debruçam-se na semântica das palavras, no seu valor censório e proibitivo, no seu uso como forma de condicionamento das massas, das suas acções e pensamentos.
De forma mais ligeira, um pouco ao longo de todo o texto, está também a questão dos afectos e das relações sociais; talvez merecesse mais aprofundamento, porque no meio de longas aulas de história, de recuos ao passado, de acontecimentos relatados na 1ª pessoa, a dimensão afectiva fica claramente relegada para um segundo plano, obviamente distante. É evidente que Javier Marías não pretendia demorar-se em questões do coração, mas a dimensão familiar e até conjugal que se dá a conhecer nas primeiras páginas do livro acaba por desaparecer de cena, sendo apenas recordada a espaços.
Como disse, este não é um livro fácil – porque obriga o leitor a “pesar” aquilo que lê, a avaliar realmente qual o valor não só do que dizemos, mas também do que parecemos e do que queremos parecer. E Javier Marías pede-nos que estejamos preparados para mais: afinal, quem subiu até à casa de Deza sem se fazer anunciar? Quem inesperadamente pôde identificar-se com um simples «Sou eu.»?



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