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Da Internet a Gutenberg
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"Meu hábil Theut, disse, a memória é o maior dom que precisa ser mantido vivo via treinamento contínuo. Com sua invenção as pessoas não mais serão obrigadas a treinar a memória. Lembrar-se-ão não por esforço interno, mas por virtude de um dispositivo externo." O Faraó se preocupava porque a escrita parecia perigosa por diminuir o poder da mente, oferecendo aos seres humanos uma alma petrificada, uma caricatura da mente, uma memória mineral. Sinteticamente: a escrita permite ao homem se lembrar daquilo que, de outra forma, poderia esquecer. O texto de Platão é irônico. Só após a invenção da escrita foi possível escrever obras sobre a memória espontânea, ou natural, como Em busca do tempo perdido, de Proust. Se as pessoas precisavam treinar suas memórias para se lembrarem das coisas, após a invenção da escrita passaram a treinar para se lembrarem dos livros. Há um medo eterno de que o novo possa abolir ou destruir algo que consideramos útil, um valor espiritual. No século XV, depois da invenção da imprensa, Victor Hugo, em O corcunda de Notre Dame, mostra o padre Claude Frollo apontando para um livro e para as torres e imagens de uma catedral, dizendo “Isto matará aquilo”. O livro poderia distrair as pessoas de seus importantes valores, dando livre interpretação às Escrituras, fomentando insana curiosidade. Passados cinco séculos, criou-se o computador e a internet. O computador supre uma forma linear de comunicação escrita, através dos hipertextos. Em um livro tem-se que ler num único sentido. Pode-se saltar páginas, voltar e reler, porém isso implica em trabalho físico. Num futuro próximo o cd-rom hipertextual substituirá livros. E se considerarmos que um hipertexto é, em geral, também multimídia, proximamente, várias outras mídias serão substituídas. É preciso considerar que os livros nunca foram a única maneira de se obter informação, apesar de importante instrumento na transmissão de informações científicas. Há alguns anos, a única forma de aprender uma língua estrangeira (sem viajar) era estudá-la em livros. Mas poder-se-ia aprender a história do Império Romano através de filmes; um bom programa de TV pode explicar a genética melhor que um livro. A preocupação educacional precisa ser entendida de maneira muito mais ampla. Se uma apresentação comentada de Chopin, em CD, ajuda as pessoas a entendê-lo, qual a diferença do entendimento através da leitura? Não podemos nos comportar como na Idade Média e pensarmos a comunicação visual destruidora da comunicação escrita. Na Idade Média, as catedrais eram as TVs e a diferença para os nossos tempos é que os diretores medievais liam bons livros, tinham imaginação e trabalhavam para o que entendiam ser benefício do público. Goodman, em Linguagens da arte, perguntava: uma figura representando uma mulher é a representação da mulher em geral (?); a descrição de suas características gerais, equivale à declaração de que há uma mulher me olhando? Há dois tipos de livros: os para serem lidos e os para serem consultados. Em ambos, a linearidade da leitura depende do leitor, embora o livro tenha seqüência lógica/cronológica. Mas consultam-se manuais de trás para frente, relemos capítulos isolados de um romance... Em um hipertexto, navega-se pela enciclopédia inteira e o conjunto CD e computador ocupa 1/5 do espaço ocupado pela enciclopédia. Pode um disco hipertextual substituir os livros de leitura? Duas questões distintas: pode algum suporte eletrônico substituir os livros?; um cd hipertextual e multimídia transformar a natureza de um livro, tal como um romance ou uma coleção de poemas? A primeira grande questão: ler uma tela não é o mesmo que ler um livro. Durante um simpósio sobre o futuro dos livros na Universidade de San Marino, Regis Debray observou que o fato da civilização hebraica ter sido uma civilização baseada em um livro não é independente do fato da mesma ser nômade. A comunicação por computadores viaja à frente e leva com ela os livros. Antes da invenção do computador, poetas e narradores sonharam com textos abertos, que os leitores reescreveriam infinitamente em diferentes formas e maneiras. Essa a idéia de O Livro, de Mallarmé. Joyce imaginou Finnegans Wake como um texto que poderia ser lido por um leitor ideal acometido por uma insônia ideal. Em um livro, a liberdade se restringe a um número finito de formas. Por outro lado, hipertextos trabalham muito bem com sistemas. Mas há uma terceira possibilidade: hipertextos ilimitados e infinitos. Todo usuário pode adicionar algo, uma estórias sem fim. Talvez esteja nascendo uma nova cultura, na qual haverá diferença entre produzir textos infinitos e interpretar textos precisos e finitos. Uma outra confusão: computadores tornarão os livros e o material escrito e impresso obsoletos? Mesmo que os livros desapareçam, isso não implica no desaparecimento do material impresso. Uma publicação, para ser corrigida, precisa ser impressa, relida, corrigida, reimpressa, lida novamente e, então, publicada. A maioria dos livros em livrarias poderia ser definida como Vanity Presses (auto-publicados), mesmo sendo publicados pela imprensa universitária. Mas com a tecnologia da computação iniciou-se uma nova Samisdazt Era (auto-editora). Carros são mais rápidos que bicicletas, mas não as tornaram obsoletas. Na história da cultura nunca ocorreu que alguma coisa tenha simplesmente destruído outra coisa. Concluindo: um romance hipertextual e interativo nos permite praticar liberdade e criatividade, e deve ser praticada nas escolas do futuro. Para que os homens sejam pessoas livres, é preciso aprender esta lição sobre Vida e Morte, e apenas os livros nos presenteiam com esta sensatez.



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