A Guerra
(Luís Fernando Veríssimo)
A Guerra. Invariavelmente a primeira tragada é seguida de
tosse e asco e geralmente é escondido dos pais, como aconteceu comigo. O que da
aquela sensação de transgressão inerente ao ato de fumar. Quando se consegue
dominar a repulsa e passar para as tragadas seguintes, é que se pode chegar a
algum prazer. Mas quando se insiste e a sensação de repulsa persiste, acaba se
dividindo em duas categorias; não-fumantes e antitabagistas, posteriormente em teóricos
e ativistas e finalmente entre moderados e radicais. Já os que se rendem,
tornam-se arrependidos que tentam parar e não conseguem e empedernidos que nem
se dão ao trabalho de tentar, que por sua vez também se subdividem em moderados
e radicais. Na onda das divisões, podemos concluir que o mundo está dividido
entre fumantes e antipatizantes destes. Daí imaginarmos uma guerra que poderia
iniciar com um banal incidente como um antitabagista radical esvaziando um
extintor na cabeça de um fumante contumaz. Teríamos represálias pelo lado radical
dos pró-tabagistas e estaria iniciada a contenda. Na formação dos exércitos,
famílias seriam divididas, os fumantes deixariam de se acuar para assumir sua
condição mostrando seu poder de fogo com baforadas na cara dos inimigos e ainda
teriam vantagem no corpo a corpo, se utilizando de isqueiros como lança chamas.
Mesmo assim, a chance do lado fumante sair vitorioso é utópica, já que sua
resistência é notoriamente inferior. Sem falar que numa guerra de trincheiras
eles certamente seriam vulneráveis, pois denunciaria suas posições toda vez que
acendessem um cigarro. N. R. Independente da posição de cada um nessa guerra,
esse texto vale pra refletirmos sobre a convocação de crianças para reforçar o
lado dos fumantes. Digo isso porque há anos vejo crianças comprando cigarros e bebidas
alcoólicas para seus pais em padarias, bares, mercearias e afins. Mesmo sabendo
que essa venda é ilícita, pouco se importam esses comerciantes (pelo contrário,
apuram mais lucros), principalmente por não haver nenhum tipo de represália por
parte das autoridades e nem discussão sobre o assunto. Então aí vai uma
sugestão pra campanha: “Se você tem um vício, sustente-o e não envolva seus
filhos. Além de crime é covardia”. Outra
sugestão: Os comércios que vendem bebidas alcoólicas e cigarros deveriam ser
obrigados a estampar por escrito a lei que proíbe a venda para as crianças.
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