Cidade de Deus
(Paulo Lins)
Neste romance baseado em fatos reais sobre a favela Cidade de Deus, os relatos de crimes bárbaros se alternam com momentos de devaneios bucólicos e idílicos nos cenários das cercanias da favela. Esta nasceu de um projeto desenvolvido por uma equipe de arquitetos, com o objetivo de alojar vítimas de uma enchente e dar a oportunidade a muitos favelados de outros pontos do Rio de Janeiro de adquirir a casa própria. Cidade de Deus está localizada entre vários bairros de classe média, como a Barra da Tijuca, Jacarepaguá, Recreio dos Bandeirantes e Vargem Grande. O local fora conhecido como Portugal Pequeno. Ali famílias portuguesas criavam gado, mantinham hortas e pomares, vivendo do que o campo produzia. Era tempo de matas, rios limpos de águas claras, pássaros, garças e galos cantando. Transformou-se em Cidade de Deus, com uma nova divisão geográfica – Lá em Cima, Lá em Baixo, Lá na Frente, Do Outro Lado do Rio e os Apês. Favela de becos e vielas, bocas de fumo, lixo, vira-latas, enchentes, sinistros silêncios e gritos. Cidade de Deus de Exus e Pombagiras, velórios, biroscas, vermes, doenças venéreas, armas, samba, jogo do bicho, fome, traição, mortes, olho de não ver e boca de não falar. As atividades da marginalidade que se instalou no conjunto giram em torno de fumar maconha, cheirar cocaína, beber muito, gozar com as mulheres, vender drogas, receptar roubos, matar e manter o posto e o prestígio conquistados por meio de mais mortes e ameaças. O acompanhamento da vida de alguns marginais que alcançaram notoriedade nos jornais mostra algumas mudanças na organização das quadrilhas, e o aumento do tráfico de drogas, atividade preferida pelos mandantes pela facilidade de obter altos lucros sem precisar sair do conjunto e fazer outros tipos de ganho através do crime. Os chefes de quadrilha mais temidos impunham certa ordem na favela, não permitindo roubos e estupros dentro do conjunto para evitar a intervenção da polícia, mas essa aparente tranqüilidade era quebrada quando estourava uma guerra entre quadrilhas, motivada por desavenças pessoais ou para tomar um ponto de venda de drogas. O racismo também existia dentro da favela e entre os policiais, pois quase todos os marginais eram negros. No entanto essa mesma polícia era violenta e corrupta, recebendo propinas e roubando o produto das atividades dos marginais que apanhavam. Os sonhos destes se igualavam aos daqueles – conseguir um grande golpe, muito dinheiro para se aposentar e sair da favela. Os moradores comuns que vieram para o conjunto esperando dar uma vida mais digna à família, com casa de alvenaria, luz, água encanada, esgotos, e espaços verdes para os filhos, muitas vezes viam estes caírem na criminalidade, ou serem mortos por balas perdidas nas guerras de quadrilhas e perseguições policiais. Crianças e adolescentes ainda tinham espaço para brincar e sonhar, mas era fácil cair nas malhas da marginalidade mediante o uso de drogas, a introjeção dos falsos valores ou até pela admiração que nutriam por alguns bandidos. Muitas crianças com cinco a seis anos de idade prestavam pequenos favores aos marginais, que não gostavam se sair às ruas sem necessidade, principalmente de dia. Os meninos iam e vinham levando recados, comprando comida, bebidas e drogas. Também eram os arautos das notícias de mortes, prisões e investidas policiais. A favela era palco de outros crimes hediondos cometidos por homens comuns, a maioria das vezes traídos pelas esposas. Muitos cometiam crimes por vingança depois de perderem algum parente nas mãos dos criminosos ou da polícia. A violência continuava dentro das prisões, alimentada pela corrupção. Dentro de suas paredes era cometido todo tipo de crimes, uso de drogas, estupros, assassinatos, roubos e facilitamento de fugas. Os presos recebem suporte de suas gangues com a cumplicidade de familiares e policiais, e muitos nem eram presos se pudessem pagar a propina. Simultaneamente ao crescimento dos marginais e à infestação da favela por pontos de vendade drogas veio também o aumento do número e da potência das armas conseguidas pelos bandidos. O mais lamentável é que a idade desses marginais dificilmente ultrapassava os vinte anos. Seu tempo de vida também. Neste livro é contada a vida de meninos e adolescentes e seus destinos: Inferninho, Barbantinho, Busca-pé, Tutuca, Martelo, Passistinha, Pará, Pelé, Cleide, Lucinha Maracanã, Berenice, Acerola, Laranjinha, Miúdo, Camundongo Russo, Biscoitinho, Tuba, Pardalzinho, Manguinha, Verdes Olhos, e dos policiais que mais se empenharam em tirar-lhes a vida – Belzebu e Cabeça de Todos Nós.
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