Sexo - Orgasmo: querer e poder.
(Ana Paula Veiga)
Muito se tem dito sobre a nova mulher. Nasce junto com ela a possibilidade dedesejar, de constituir-se numa vivência sexual. e que tanto no terreno privado comono público, suas conquistas falam de direitos até então reservado aos homens. Odireito ao sexo é uma dessas conquistas, mas, como todas, tem um preço, que incluium novo enquadramento social onde, na maioria das vezes, mente e corpo podemfuncionar um contra o outro.
Não é raro ver mulheres que se dividem entre o querer e o ser 'bem vista ou falada'.Muitas querem ostentar uma posição mais liberal, na qual podem admitir seus desejos. Poucas assumem, outras, ainda que assumam, ficam preocupadas no diaseguinte ('O que será que ele vai pensar'?). Algumas preferem esquecer o assunto evivem a realidade retratada pela televisão como sua melhor e mais perversacompanhia.
Esse retrato tem a ver com as gerações anteriores que norteiam os valores sociais atuais. Conforme salientou Silva (1989), competia à mulher a formatação da vidaprivada pra que pudesse ser respeitada. Dessa forma, fazia parte da feminilidade anão valorização do ímpeto sexual – privilégio masculino, devendo até abdicar dosexo, contanto que não prejudicasse a formação familiar. Deste modo, a falta deorgasmo era coisa mais do que cotidiana: era normal, uma reação natural da mulherde bem.
Hoje, numa época de menor discriminação sexual (será?), elas podem seconscientizar do lugar que já ocuparam e lutar por um espaço mais atual. Produtorae consumidora, depois de ter sido decomposta em objeto de decoração e semopções, atualmente, percebe a cobrança imposta pela performance. É precisoenfrentar fantasia e certeza, sem imitações, numa tentativa de atenuar o abalo daausência do orgasmo, uma vez que para a mulher é muito difícil não unir asexualidade com o contexto em que ela vive. Assim, pode-se até articular que oórgão sexual mais respeitável é o cérebro, ou seja, o que acontece da barriga paracima tem muita relação com aquilo que ocorre da barriga para baixo.
Hoje já se sabe que o orgasmo independe da região que o desencadeia, podendoser provocado pelo estímulo de qualquer região do corpo. Mas houve um tempo emque se acreditava existirem dois tipos de orgasmos: o clitoriano e o vaginal. Freud(1856), o precursor de tal idéia, nas primeiras décadas do século passado, afirmavaque toda a mulher tem inveja do pênis e que existe uma analogia estrutural entre talórgão e o clitóris. Assim, o orgasmo clitoriano seria uma revelação da inveja femininanão resolvida. Ao amadurecer, ela desistiria de tal ambição, passando a reconhecera sua condição, transferindo o foco do clitóris para a vagina.Nos anos 60,Silva (1989) ressaltou que tornou-se evidente que o orgasmo, independentementeda procedência, é um único processo, sediado no sistema nervoso central, para oqual as áreas do clitóris ou da vagina funcionam como via de acesso. Percebeu-se,conforme Kinsey já havia levantado, que a mulher, dentro dos parâmetros fisiológicos, é capaz de ser multiorgásmica.
E dessa forma que a mulher deixou de ser a guardiã dos valores puritanos para sersujeito de outra compulsão: o orgasmo, antes proibido, passou a ser obrigatório. Emais: antes no singular, agora deveria ser plural. Silva (1989) afirma que a mesmasexualidade que antes era fonte de inadequação por existir, acabou desajustandopor não existir. O sexo quase proibido transformou-se, num piscar de olhos, em sexoquase obrigatório.
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