Filme - Janela Indiscreta (1ª parte)
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Quantos de nós nunca olharam pela janela para alguém que passava na rua e se perguntaram o que é que aquela pessoa estaria a fazer, naquele momento, o que transportaria ela no saco que carrega, ou porque caminha tão rapidamente? É esse o ponto de partida para mais esta obra-prima de Alfred Hitchcock, que coloca a sua personagem numa situação limite: L. B. Jefferies (James Stewart) encontra-se em casa, incapaz de sair durante 7 semanas após ter partido uma perna quando fotografava uma corrida de automóveis onde fora atropelado por um dos carros. Assim, pouco mais lhe resta para fazer do que espiar as andanças dos seus vizinhos, através da janela do seu pequeno apartamento.Logo nos primeiros minutos de filme somos confrontados com a ideia de que o voyeurismo é um dos piores pecados que o homem pode cometer. “No lugar de olhar para a janela dos outros, deveria ir lá para fora e olhar para a sua”, diz a Jefferies a enfermeira da seguradora encarregue de tratar dele durante o seu período de recuperação. E de facto, ao longo de todo um filme, o espectador deste belo espécime hitchcockiano é colocado no quarto com Jefferies, apenas observando pela janela aquilo que o seu protagonista consegue ver. É uma questão de ponto de vista, e poucos cineastas terão trabalhado esse tema tão bem quanto o realizador britânico. E a verdade é que ele faz de nós cúmplices desse vício, dessa indiscrição, desse prazer culpado que nos leva a revelar um fascínio fora do comum pela vida alheia. A curiosidade em saber o que se passa na casa da bela bailarina, do casal que dorme na varanda, do músico, da mulher solitária ou do homem que tem a mulher presa à cama devido à sua incapacidade física é enorme, mas não são raras as vezes em que nos é impossível não sentir um desconforto por participarmos nesta violação de privacidade. Claro que este não poderia ser um filme de Hitchcock se lhe faltassem dois elementos essenciais: uma intriga policial e uma mulher. Quanto ao primeiro ponto, inevitavelmente, coloca Jefferies no rasto de um dos vizinhos que ele acredita ter assassinado a mulher. Mas como o realizador nunca nos deixa ver mais do que o seu protagonista, essa dúvida mantém-se presente até ao final. Quanto à mulher, essa é inevitavelmente loira e apaixonada pelo protagonista que, por seu turno, tem uma fobia enorme ao casamento. E Grace Kelly é graciosa e uma das mais interessantes “mulheres de Hitchcock” de sempre, fazendo com James Stewart um par de excepção, com uma química particularmente feliz. Aliás, a relação entre estes dois é das mais bem conseguidas entre homens e mulheres nos filmes do realizador, com as doses certas de romance, humor e ironia – ela, uma rapariga da alta sociedade, rica e deslumbrante e ele, uma espécie de fotojornalista em constantes viagens e disposto a tudo para obter uma boa fotografia.
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