Segredos da Voz - Respiração
(Manuela de Sá)
Cap. IV – RESPIRAÇÃO.
Algumas leis do corpo a não violar: inspiração deve acontecer onde exista maior capacidade e controlo: zona abdominal; elasticidade dos músculos intervenientes; ausência de bloqueios, por excesso de quantidade de ar inspirado; controlo da saída do ar feito pelos músculos intercostais; acção preponderante dos músculos abdominais nos sons de maior intensidade; ataque suave das vogais e inspirações silenciosas (entrada gradual do ar).
A postura ideal para cantar é a que respeita as leis da gravidade, concentrando todo o peso da cabeça, tronco e braços no plano ósseo sacro-ilíaco. Quando estes parâmetros se reúnem, sente-se um bem-estar geral e não é necessário contrariar a forma de respiração preconizada. Quando, pelo contrário, há algum ou alguns factores que não se ajustam, é necessário rever todo o processo respiratório.
A respiração natural (automática) tem sempre dois momentos: 1 – Inspiração, em que o cérebro envia ordem para o diafragma contrair alargando a caixa torácica. 2 – Expiração, em que o diafragma relaxa, subindo, e as paredes do tórax voltam a contrair-se provocando a saída do ar para o exterior.
Na respiração ao serviço do discurso cantado existem três momentos: 1 – No primeiro momento, o ar entra pela boca ou pelo nariz (na segunda hipótese tem a vantagem de ser aquecido e purificado), segue pela faringe, laringe, traqueia, brônquios, bronquíolos, pulmões, chegando à base destes últimos. O diafragma, poderoso músculo que separa o tórax do abdómen, é na sua contracção deslocado para baixo, permitindo que o ar chegue à base dos pulmões. Em seguida, os músculos intercostais expandem-se lateralmente. Durante a inspiração o cantor experimentou sensações cinestésicas nas zonas lombar, pélvica, intercostal e esternal. Completada a inspiração deve existir uma sensação de plenitude e bem-estar, enquanto o abdómen dilatou, bem como a zona das últimas costelas. Não interessa que se tenha inspirado uma grande quantidade de ar, pois isso traria tensões e bloqueios. Não convém que a entrada do ar se tenha realizado com ruído, já que esta situação, para além de inestética, acarreta irritação da mucosa do nariz e da faringe, para além de que o excesso de ar na expiração, ao passar na mucosa, volta a irritá-la e lhe tira capacidades vibráteis; importa sim que a inspiração se tenha passado de forma suave e plena, e que o ar tenha atingido não só a zona abdominal mas também a torácica. Por quê tanto ênfase aos músculos intercostais e tão pouco ao diafragma, músculo fundamental no processo respiratório? É que o diafragma não actua sob a nossa vontade, nem o podemos sentir. O que sentimos é na realidade a distensão dos músculos abdominais provocada pela deslocação visceral durante a respiração profunda. A importância dos intercostais é que estes actuam sob a nossa vontade, são controláveis. 2 – Num segundo momento não há ar a entrar nem a sair e todos os elementos estabilizam. 3 – O terceiro momento é a expiração, e é aqui que reside o controlo, que consiste em evitar que o ar saia em lufadas descoordenadas, descontínuas, e se gaste rapidamente. Controla-se o ar pensando (enviando estímulos) e desencadeando um estado energético eficiente, que guarde os intercostais numa posição de alargamento, para que se consiga uma redução da pressão sub-glótica. Ao fim de certo tempo, os intercostais diminuem a sua acção, activando-se então os músculos abdominais oblíquos, transversais e rectos. Este processo acontece de forma contínua, garantindo assim que apenas o ar necessário passe na glote, levando as vibrações de partícula em partícula até à boca, para que seja possível executar-se um perfeito “legato” sem solavancos. Esta forma de controlar a expiração nunca deve assumir tensão muscular, que implicaria bloqueios e rigidez indesejáveis. Durante a fonação o mecanismo respiratório tem de estar disponível para proceder às alterações das forças aero-dinâmicas, necessárias aos diversos níveis de intensidade e à variedade articulatória de consoantes e vogais.
Lembremos que inspirar demasiado implica perda de mobilidade do diafragma, e, consequentemente, menos firmeza do esfíncter glótico. Para cantar a inspiração deve ser comedida e cómoda, de forma a manter a flexibilidade do diafragma e a tonicidade do esfíncter glótico. Ao fim de uns anos de prática, esta atitude faz parte da “postura vocal” assimilada, e o cantor deixa de se preocupar com ela. Nem sempre é possível fazer inspirações profundas, lentas, e com o ar a entrar pelo nariz. Muitas vezes precisamos de inspirar pouco, rapidamente e pela boca, devendo neste caso evitar-se tensões e pressas, programando atempadamente estas situações.
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