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Segredos da Voz - o Sistema Nervoso
(Manuela de Sá)

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Cap. VIII – SISTEMA NERVOSO.
Para além das funções sensitiva e motora, o cantor necessita de outra função do sistema nervoso central: a memória. As impressões provenientes das experiências auditivo-vocais são retidas no cérebro; exemplo: experiência nova ou já vivida, experiência boa ou má. Quando o cantor produz um som novo (emitido de uma nova forma) e que corresponde aos seus padrões de qualidade bom, então ele arquiva para não se esquecer na vez seguinte. Quando o bom resultado não foi só casual, mas proveniente de uma indicação do professor, então não é só a memória auditiva que funciona, mas toda a postura que lhe estava associada. É assim que o cantor faz a aprendizagem. Estes comportamentos vocais neuro-musculares, depois de muito trabalhados, deixam de necessitar de grande esforço de concentração, pois todo o mecanismo começa a desencadear-se automaticamente, tal como o condutor que deixa de pensar que mudança deve usar em cada momento. Morrison (1994) diz “The true organ of speech and voice is the brain...”, e é claro que qualquer afecção dos nervos cranianos traz consequências drásticas para a fonação. A boa fonação está dependente da eficácia do sistema piramidal, do cerebelo e do sistema extra-piramidal.
AS ESTIMULAÇÕES RÍTMICAS DA VOZ CANTADA: Sempre que falamos ou cantamos numa determinada altura (frequência), o estímulo rítmico inicial provém do córtex, estando ligado às células da área motriz. Na fonação o estímulo é cortical, quer dizer que provém de acções voluntárias, condicionando também o parâmetro “expressividade”. Em casos de disfunção cortical, o carácter rítmico da fonação sofre alterações e o paciente tem dificuldade em emitir um som prolongado e controlado. A arritmia cerebral que se pode ler no traçado electroencefalográfico repercute-se também em arritmia de estímulo das cordas vocais. Assim é difícil conseguir um controlo vocal apurado em pessoas que sofram de epilepsia.
Os fenómenos de estimulação rítmica ao nível do córtex, para a produção de sons de frequência determinada e mantida, dependem da actividade rítmica dos centros corticais da audição. Desta forma as deficiências auditivas condicionam aspectos da fonação ou até a totalidade da mesma. Por exemplo: se enquanto uma pessoa fala ou canta colocarmos perto uma fonte de sons muito intensos, de forma a que ela sinta dificuldade em se ouvir ou deixe de se ouvir, esta modifica a sua emissão, aumentando consideravelmente a intensidade da voz (é o caso de oradores e cantores em actuação conjunta com outros cantores ou instrumentos). Daí que, quando um aluno começa a educar a voz, não seja aconselhável cantar em coros onde, não se ouvindo bem, terá tendência a “forçar”.
Só uma pessoa com o ouvido e voz muito educados é capaz de fazer representações psico-auditivas (chamada audição interna) e formar mentalmente a imagem do som (altura) que quer emitir, podendo assim ultrapassar dificuldades de audição por ensurdecimento ou por sobreposição de muitos sons intensos. Foi o caso de Beethoven, que ensurdeceu depois do seu ouvido estar educado o que lhe permitiu continuar a compor mesmo sem ouvir os sons que representava nas partituras, tendo no entanto pleno conhecimento de como devia soar para as outras pessoas, através da sua representação mental das frequências e timbres. É também o caso de cantores que vêem diminuídas as suas capacidades auditivas (por doença) e que continuam a cantar afinado e sem descontrolo.
É também o caso da representação mental tímbrica. Por exemplo: um cantor pensa ”som escuro”, “som pastoso”, ou pelo contrário “som claro”, “som aéreo”, e, em cada destes casos, imediatamente, sem cantar, as cavidades de ressonância adaptam-se às diferentes situações, através das vias nervosas do “facial” e do “glosso-faríngeo”, que se habituaram a determinadas posturas no decurso da educação vocal. Madame Mado Robin (cantora da ópera de Paris em meados do século XX) foi colaboradora de Raul Husson nos seus estudos de fisiologia da voz, e corrobora esta verdade da representação mental do som, conseguindo emitir sons agudos nunca pensados, através de uma acção volitiva muito forte. Por exemplo: um cantor que leia durante muitas horas, fazendo a representação mental das vogais e consoantes, pode apresentar, ao fim de muito tempo, cansaço vocal no plano nervoso. A cada sílaba lida mentalmente, os nervos, que habitualmente estimulam ritmicamente os músculos fazem o seu trabalho da mesma forma que fariam se a pessoa lesse alto. Em endoscopia é possível verificar que o cantor profissional é capaz de colocar a sua laringe em posição de emitir o som que o próprio concebeu mentalmente, podendo verificar-se a adução e alongamento das cordas vocais correspondentes à frequência pensada, sem que no entanto o som seja emitido.



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