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O naturalismo de Epicuro em CARTA SOBRE A FELICIDADE
(Epicuro)

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O naturalismo de Epicuro é um sensualismo, na medida em que dá a força da razão às sensações. Isto significa, não que o sábio rejeite os mandamentos da razão, mas que a tem em conta como um domínio corpóreo, de que as sensações são manifestação. Assim, pode Epicuro afirmar que “todo o bem e todo o mal residem na sensação”. Deste modo, Epicuro evidencia o carácter de autonomia do ser humano, não como uma razão que se eleva acima da natureza, mas como um corpo racional e sensitivo, protagonista de todos os bens e de todos os males.
Com estes dados apenas, podemos já reconhecer a importância da filosofia de Epicuro, no que à superação do dualismo ontológico diz respeito. Para o filósofo do Jardim, o homem é um ser integral e a filosofia uma ontologia da natureza, numa prática de comunhão e respeito: “A Natureza é simplesmente esta Presença elementar e fundamental no seio da qual o homem deve encontrar o repouso e a paz”. Como critério máximo de verdade, a sensação mostra-nos o que a realidade é. Para alcançarmos a felicidade, que é o objectivo supremo do epicurismo, devemos acolher as boas sensações e rejeitar as más. A sensação não julga sobre a realidade: sente-a. Quanto ao homem, ele deve corresponder aos apelos da (sua) natureza, comportando-se em conformidade com as sensações que lhe dão mais prazer.
Parece este um caminho fácil e até algo fútil para alcançar a felicidade humana sobre a Terra. Bergson chegou a afirmar, acerca da filosofia de vida de Epicuro: “O essencial, para ele, é viver feliz; é nisso que consiste o privilégio do sábio, tendo a filosofia como objecto conduzir-nos à felicidade pelo caminho mais curto”. Mas o epicurismo é uma prática de austeridade e não de prazeres fáceis e inúteis. O caminho para a felicidade é árduo, impondo aos discípulos uma auto-disciplina e um auto-controlo difíceis, se não impossíveis de alcançar pela maioria dos mortais. Daremos apenas aqui um exemplo, elucidado pelo próprio Epicuro, na sua Carta sobre a Felicidade . Diz respeito à frugalidade da alimentação e ao modo como devemos gerir e antecipar as sensações de prazer: “Os alimentos simples satisfazem tanto como os alimentos faustosos, logo que suprimida a dor que resulta da falta: o pão de cevada e a água concedem um prazer extremo desde que, com apetite, os levemos à boca. (…) Quando falamos do prazer como de um fim, não falamos dos prazeres dissolutos ou daqueles que têm o gozo por residência – (…) mas de alcançar um estádio em que não se sofre no corpo e não se está perturbado na alma”. Assim é, o naturalismo de Epicuro, um sensualismo. Será, consequentemente, um empirismo?
Ao defender que a sensação é a medida da realidade, o epicurismo revelou-se como fonte de inspiração para o empirismo da modernidade. De facto, o empirismo também tem como divisa que os sentidos são a verdadeira fonte do conhecimento. Agora, será que isto basta para considerarmos que Epicuro era um empirista? Penso que não. Epicuro não se interessava pelas ciências da natureza, interessava-se em salvar o homem como um ser livre, auto-posicionado na natureza, vivendo sem receios dos fenómenos naturais, um ser responsável pelo seu futuro. Ora, esta não é a posição dos empiristas, que se servem da ciência para tentarem provar, através da experiência, que tudo tem uma causa e um efeito, tudo se explica através de leis irrefutáveis e que o progresso do conhecimento científico é indispensável à humanidade para alcançar a felicidade e o bem-estar (aquilo a que chamamos hoje, por vezes de forma oca, vazia de sentido, a qualidade de vida). Epicuro, para, por um lado, descansar o homem dos medos da ira divina e, por outro lado, responsabilizá-lo totalmente pelos seus actos, tem de procurar uma razão. É então a razão que vai desta vez servir de auxiliar precioso para que os homens cheguem à conclusão, através de um raciocínio lógico básico, de que a liberdade não tem preço.
Um filósofo catalogado como racionalista, Immanuel Kant, reconheceu em Epicuro um valor fundamental para a vida: “…até pelo facto de que, como afirmava Epicuro, o agrado e a dor serem sempre, em última análise, corpóreos, quer comecem na imaginação, ou mesmo em representações do entendimento; porque a vida sem o sentimento do corpo é apenas consciência da sua existência, mas não sentimento do bem-estar ou do mal-estar…” (em Crítica da Faculdade de Julgar ).
Tratar-se-á, acima de tudo, de uma prática filosófica, uma ontologia integral, que considera o ser como manifestação de vida, numa harmonia de sentidos, em natureza. Esta filosofia será, julgamos, o berço de diversas éticas da natureza, preocupações filosóficas e ambientais actuais, que encontram em Epicuro o respeito pela natureza – pela sua beleza intrínseca – num apelo ao ressurgimento de uma auto-estima moribunda no mundo ocidental.



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