Alves e Cia.
(Eça de Queiroz)
O romance tem como cenário a Lisboa nos fins do século XIX e seu imaginário social. O texto propõe o que já foi chamado de sociologia do adultério um dos temas recorrentes em Eça de Queiroz. Traz a visão de que o ócio degenerava a virtude da sociedade como um todo e, sendo assim, a mulher que tem muitas ocupações é mais fiel.
Godofredo Alves, o protagonista, que vem de uma classe mais pobre e cresce com o comércio, vive um dilema: seus amigos, de dinheiro “fácil”, tem idéias de fidelidade diferentes da sua. E o que é, na verdade, essa idéia posta de fidelidade? O episódio que gera a questão vem logo no início da narrativa, quando Alves chega em sua casa e encontra sua esposa nos braços do sócio. Este mais jovem e com mais dinheiro. Godofredo se desespera, expulsa a mulher de sua casa e trama se vingar matando o sócio. Como fazer? Busca o auxílio de amigos próximos e entre discussões e desilusões repensa seus valores morais.
O texto retrata o cotidiano do século XIX em Portugal e a mudança de costumes solidificados, representados por Godofredo Alves, como a própria fidelidade matrimonial, o duelo para justificar a honra, a mesada para a esposa traidora, as “aparências” que deveriam ser mantidas, frente a visão dos demais personagens: o sogro que preocupasse com a mesada da filha, seus amigos que lhe dão uma aula de experiências amorosas várias, os empregados que fazem vistas grossas aos acontecimentos.
Depois de persuadido, Godofredo resolve retornar à mulher e aceita o sócio novamente. E fica o dito pelo não dito e viveram felizes, etc.
A questão central de “Alves e Cia.” é a adequação do homem ao meio, a pressão da sociedade que o obriga a tomar posições frente aos acontecimentos em seu dia a dia; a degeneração da moral cristã que só existe como um véu encobrindo a realidade e o tempo – a velocidade das transformações sociais que atropela um conjunto de valores solidificados – que apaga todas as feridas.
Tudo estava bem na vida do Alves. Até que um dia ele chegou em casa e teve a terrível visão em sua sala de estar: sua mulher, no sofá amarelo, em postura inconveniente, trocando afagos com um outro homem. Negócios, tranqüilidade, o doce lar, tudo veio abaixo de uma só vez, como num pesadelo terrível. Desesperado, Alves vê sua vida ruir e, indignado, anseia por vingança. Afinal, perde-se a mulher, mas não se perde a honra. O que é realmente importante para a vida social de um homem nesse conjunto que é o século XIX e, em determinadas classes sociais, para o homem de hoje? Tais questões permeiam todo o texto.
Podemos perceber que o naturalismo – característico dos textos anteriores de Eça de Queiroz – já começa a dar espaço a um sarcasmo diluído na narrativa (que não invalida o naturalismo) que funciona como uma “saturação”, aparecendo em cada detalhe descrito do cotidiano português. A critica é tomada à sociedade burguesa. É o caso da construção de uma espécie de “anticiúmes’. Godofredo Alves é o estereótipo da prudência mercantil e da burguesia constituída em sólidas bases. Sua reconciliação com a mulher e com o sócio determina a prevalência dos negócios: a firma, as aparências, a conveniência social, etc. sobre as relações amorosas: “As paixões fortes pertencem aos livros”. As pressões de seus amigos e dos demais membros de sua convivência/conveniência social o persuadem a esquecer o "acidental" adultério, reduzindo-o a um acidente pouco significativo. O que sobrevive é, realmente, a necessidade de sobrevivência em uma sociedade capitalista.
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