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Uma Viagem Milagrosa
(Machado de Assis)

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De certo já ouviram falar de várias viagens incríveis, fantásticas, como, por exemplo, as Viagens de Gulliver, mas jamais ouviram falar da viagem que narraremos, chamamo-la de uma viagem milagrosa, pois nosso viajante atravessou por caminhos singulares e em circunstâncias jamais conhecida. Tito é o nome de nosso viajante; Tito é de estatura mediana, a qual pode chamar de elegante. Possui semblante angélico, olhos meigos e profundos, a boca graciosa, a fronte larga, Tito pode servir de modelo à pintura, contudo, tinha um defeito. Poeta de mão cheia, sabia escrever como ninguém, mas em seu estado de pobreza vendia seus poemas para poder sobreviver. Certo dia procurado por um nobre muito rico aceitou escrever-lhe odes em troca de algum dinheiro para seu sustento. Tito apaixonou-se por uma jovem aristocrata. Este amor levou-lhe a febre intensa, quase morreu. Foi curado por uma senhora que lhe preparou ungüentos terapêuticos. Foi ao encontro de sua amada, esta o rejeitou friamente. Tito perdido de paixão não conseguia mais compor suas odes e poemas perdendo seu meio de sobrevivência. Numa noite chuvosa, onde relâmpagos cintilavam o céu escurecido por nuvens negras, à luz de uma singela vela, desesperado pensou em sucumbir de sua vida ou então de viajar para um lugar longíquo para esquecer seu amor. Debruçado sobre a mesa dormiu; de repente ouviu baterem à porta. Ao abrir a porta estava ali uma jovem, linda, loura, olhos azuis, toda de branco. Convidou-a a entrar e seguiram conversando sobre o tema que o agoniava: o amor não correspondido. Foi aí que surgiu o convite desta jovem para acompanhá-lo em uma viagem, e ele aceitou de início. -Viajaremos por terra ou por mar. Ao que ela lhe respondeu: - Nem por terra, nem por mar. Ela então o levou até o telhado e lá abriram-se duas asas brancas, e assim começaram a viagem. Subiram, extasiado com tanta beleza, sentia o vento que batia suavemente em sua face, o ar estava fresco, Era já madrugada; as estrelas ofuscavam o céu com seu brilho cintilante. Ele receoso, perguntou a sua acompanhante: - Para que país estamos indo? A loura respondeu-lhe: - Vamos ao país das quimeras, onde 3/4 da população da terra costuma estar. De repente a fada lhe advertiu que acabavam de chegar ao palácio de muitos soberanos e ali entraram. Eram corredores imensos, com muitas portas. Logo estavam numa sala e encontraram o soberano mor, sentado a um trono cravejado de ouro, com dois pavões. Foram feitas as continências de costume; havia muitos fidalgos quiméricos aos quais Tito foi formalmente apresentado. Neste momento entrou um bando de moçoilas frescas, lépidas, bonitas e louras, mas de um louro que se não conhece entre nós, os filhos da terra! - Quem eram aquelas raparigas? Tito estava de boca aberta. Indagou da sua guia, e soube. Eram as Utopias e as Quimeras que iam da terra. As Utopias e as Quimeras foram festejadas pelo soberano. A Fada e Tito seguiram sua jornada entre aqueles imensos corredores e depararam-se com a sala da rainha que era uma senhora digna, muito respeitada, imponente, mas graciosa. Encontraram muitas outras salas e muito mais quimeras e utopias. Encontraram a sala da cozinha onde preparavam a massa cerebral para os terrestres, a sala dos filósofos que discutiam os diferentes modos de inspirar aos diplomatas e diretores deste nosso mundo os pretextos para encher o tempo e apavorar os espíritos com futilidades e espantalhos. Esses homens tinham ares de finos e espertos. Havia um filósofo quimérico que discursava para tantos outros; falava sobre a vaidade: - ela não é entre nós outra coisa mais do que a verdadeira tensão do espírito, a consciência da nossa elevação moral. Tito andou de sala em sala, corredor por corredor;via um trabalho ali, um jogo acolá, teve tempo de ver de tudo. Mas Tito ainda não havia compreendido o que fazia naquele lugar, até que perguntou a sua fada, ao que lhe respondeu: - Não te lembras? À noite, cansado das lutas do dia, recolhes-te ao aposento, e aí, abrindo velas ao pensamento, deixas-te ir por um mar sereno e calmo. Nessa viagem acompanhamos-te, somos nós, as Utopias, nós, as Quimeras. Compreendeu afinal que estava ali há muito tempo. Sorriu, e cravando os olhos nos da Utopia que tinha diante de si, disse: —Ah! sois vós, é verdade. Consoladora companhia que me distrai de todas as misérias e pesares. É no seio de vós que eu enxugo as minhas lágrimas. —E queres saber, tornou a Utopia, quem nos leva a todas para a tua companhia? Tito então se deu conta de que era a Fantasia, companheira dos que pensam e sentem o Amor. Nesta situação soltou um grito de dor. Fechou os olhos e deixou-se ir como se tivesse de encontrar a viagem da morte. Era na verdade o mais provável. Foi acordando e se deu conta de que estava em sua cama e sentiu grande satisfação neste momento, pois voltava ao mundo real. A vela estava gasta... refletiu muito sobre o que acabara de lhe acontecer, mas esta viagem serviu-lhe. Desde então adquiriu um olhar de lince capaz de descobrirse um homem tem na cabeça miolos ou massa quimérica. Declarar guerra à humanidade, é declara-la a toda gente. Isto pode servir de exemplo aos futuros viajantes e poetas, a quem acontecer a viagem milagrosa que aconteceu a este poeta.



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