Dia das Mães na Cadeia
(Ataíde Vieira dos Santos)
Dia das Mães na Cadeia Mãe, aqui de dentro da cela, olhando pela janela a vida passar lá fora; Hoje, sem ter liberdade, é grande a dor da saudade que eu sinto da senhora. Hoje os meus companheiros vão ficar o dia inteiro a comemorar este Dia; Eu não vou participar, porque não consigo encontrar neste inferno, alegria. Chama isto de cadeia, talvez por ser a mais feia casa que eu morei; Lar, somente um, conheci: foi a casinha, onde eu nasci, que sem motivo a deixei. Era uma pequena casinha, muito humilde, pobrezinha, porém muito rica em amor; Hoje somos em quarenta, nesta fria e nojenta, do final do corredor. Quantas vezes aí em casa, você se levantava e me cobrir você ia; Aqui, eu durmo no chão, sem coberta e sem colchão, nesta cela suja e fria. Me lembrei neste momento do velho fogão de cimento que papai fez pra você. Com suas mãos preciosas fazia comida deliciosa que jamais eu pude esquecer. Aqui, eu como o que vem, porque a gente não tem o direito de reclamar; Quem aqui banca o machão, fica sem a refeição, ouvindo o estômago roncar. Sei que hoje é o teu Dia, também sei que nem devia estas coisas te contar. Pra você deve ser uma ofensa, mas quero que veja a diferença que isto tem de um Lar. Minha sentença já saiu, mas o juiz não permitiu que eu fosse lhe visitar. Trinta anos ele me deu, dizendo que um sujeito como eu não tem direito a um Lar. Tudo que me resta agora, é recordar da senhora e de nossa família, tão bela; O resto de minha vida será sem alegria, porque fui trocar um dia o meu lar por esta cela. (Ataíde Vieira dos Santos, 39, paranaense de Umuarama e residente em Mundo Novo)
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