O eterno sonho de ser africano
(Custodio Dima)
Nasci em África, meus ancestrais são africanos, cresci em África, formei-me em África, viajo por África, quero constituir uma família africana e conservo comigo muitos valores africanos. Falo certas línguas africanas e aprecio tudo que seja africano, desde comida, bebida, gente, culturas, roupa entre outros. De entre muitas glórias e magnificências que se podem cantar de África, sobressaem certos constrangimentos que vale a pena citar. Um deles é o facto de os africanos ainda não poderem afirmar que a África é um continente para africanos. Os africanos ainda não podem ter o orgulho de afirmarem serem africanos porque isso, em nada constitui verdade, para além de pretender ser uma ladainha no fingimento de ser o que se não é. Não vou alongar me a citar exemplos que os caros leitores já dominam com certeza devido a sua protelação na mídia. Digo somente que, quem olhar para a política de cada país africano logo perceberá que, quem manda em África é o Ocidente. Escolhe os líderes da oposição, molda o seu discurso e coloca-os na arena como fantoches e caixas de ressonância. É imposta em África toda a agenda política, sócio cultural e económica. O dinheiro vem dos brancos. Eles decidem as quantidades, decidem as prioridades, decidem os juros, decidem o que deve ser consumido, o que comer e o que vestir, decidem os programas televisivos em África, determinam os horários de festas e decidem os preços do mercado. Decidem a língua da cultura, a língua do mercado, do conhecimento e do entretenimento. Decidem o valor das coisas e determinam a agenda africana. O ocidente determina os problemas actuais de África, resolve os que achar prioritários e incentiva aqueles que achar serem estratégicos para si. O ocidente determina o belo, o apreciável, o modelo e o mais doce. O ocidente determina o ruim, o mau e o imprestável. Os brancos decidem quem são os africanos e atribui-lhes o estatus que bem lhe apetece. Os brancos sabem que o são, conhecem o seu lugar na história e sabem perspectivar o seu futuro. Na andança para o futuro, a África funciona como lixeira e como poço mágico. É de África que saem os recursos que construíram e constroem o ocidente. Daqui saiu a mão de obra e a matéria prima. Mas é também em África que o lixo indestrutível do ocidente é deitado. Salários mínimos super baixos e homens que desconhecem seus direitos de trabalhador. África, um belo paraíso por explorar. Velhos ocidentais, gente sem muito espaço em seu continente vêm para África. Homens cansados de viver, avós e bisavós, vêm curtir as meninas africanas, como alguém já disse, carne mais barata do mercado. Fazem todo tipo de sexo com as princesas africanas em troca de alguns dólares. Mulheres cansadas de viver, avós e bisavós, aposentadas no ocidente, vêm para África curtir os jovens africanos. Obrigam-nos a todo tipo de promiscuidade, em troca de dólares e euros quase impossíveis de ter em África. O ocidente incentiva o analfabetismo, o desemprego e a degradação social em África para tirar todo tipo de dividendo. O ocidente decide quem deve estudar, quanto deve estudar e quem deve ser empregado. Em África não existe uma política própria, quase tudo é decidido pelos brancos. Enquanto isso, onde estão os africanos? Onde estão esses que cantam serem continuadores da revolução, onde estão os continuadores de Kwame Krumah, de Marcus Garvey, de Haile Selassie, de Leopord Senghor, Samora Machel e Williamos du Boys. Onde estão esses que argumentam ser a União Africana solução para o Continente? Devem estar perdidos. Não participam da Comissão Africana dos Direitos do Homem e dos Povos, não encaminham relatórios, não prestam contas e nem apresentam propostas de boa governação. Se apresentarem, nunca chegam a implementar. E quando querem divertir-se provocam guerras civis e problemas políticos como os de Darfur. África está longe de ser um continente para os africanos. Hoje, ser africano, continua a significar ser vítima do mesmo sistema imperialista que dominou ocontinente há 500 anos. Ser africano continua a significar ser servo do branco. Continua a significar nao ser sujeito activo, mas passivo e muitas vezes, continua a significar ser objecto de satisfação do ocidente. E claro que esse ocidente tem a forte colaboração dos africanos ligados ao poder. O que é então tudo que os africanos cantam como ganho ou aspiração? É tudo uma utopia. Continua sendo a mesma utopia de sempre. E vale a pena ter essa utopia. O sonho de ser africano continua como esteve no primeiro dia em que foi sonhado. E um sonho de uma África livre de dominações, uma África onde os africanos têm a sua palavra. Onde os africanos têm a sua opinião, onde os africanos podem decidir. O sonho africano de uma África onde os seus filhos crescem na paz e harmonia. Onde as pessoas são respeitadas por serem humanas, onde não são sexualmente exploradas por causa da fome e da miséria. África continua sonhando com a sua glória. Onde as acadêmias podem ensinar e formar sobre África, onde a literatura pode falar sobre África, onde a mídia divulga a cultura e o modus vivendi africano. O sonho africano continua o mesmo. O de ver líderes comprometidos, líderes libertos da ganância e ambição, líderes capazes de transmitir a confiança e o espírito de trabalho e produtividade nos africanos. África continua a sonhar com gente que quer viver livre, em paz e na justiça social.
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