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A Bela do Senhor
(Albert Cohen)

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Se tivesse que eleger um livro, este era sem dúvida o livro da minha vida, o que mais me fez pensar, o que mais me intrigou, o que me fazia ir para a cama mais cedo e dormir muito mais tarde, (tenho o hábito de ler na cama), o que queria ler sem parar sempre com a esperança de que as páginas se multiplicassem para que não tivesse fim e ansiosa para conhecer o final. De todos os livros que li, este é o que mais vezes reli, sempre como se fosse o ultimo romance que tinha comprado, sempre como se fosse a primeira vez que passava as mãos pela lombada, e esperava ter esquecido já história na expectativa de um final diferente do que li na primeira vez.   É uma história de amor soberba, duas pessoas lindas, que se apaixonam ao primeiro olhar, que estão convencidas que se amam de loucura, mas por pensarem que tanto se amam, se enfiam numa redoma de vidro, vivem uma paixão surreal, num mundo surreal, que criaram só para os dois. Amam-se mas não se conhecem, adoram-se, mas acabam por destruir o amor que sentem, vencidos pela exaustão de tanto quererem parecer e não ser.   Depois de histórias completamente rocambolescas, depois de cortar com todos os ditames da época e da sociedade hipócrita em que viviam, ela abandona a casa, o marido, a família, a vida de glamour, ele abandona a sua carreira diplomática, os salões onde era tido e apetecido como um dos solteirões mais charmosos e atraentes do momento. Deixam tudo um pelo outro e acabam por se isolar do mundo, para viverem juntos uma história de amor, ao jeito de Romeu e Julieta, com uma única diferença, Julieta amava Romeu, amor impossível, as famílias não deixaram concretizar esse amor, os nossos protagonistas não deixaram concretizar esse amor, pelas cores com que pintaram essa paixão, pela vida de faz de conta que criaram. Esse amor tão verdadeiro e tão de faz de conta acabou por destruir toda a paixão imensa que existia, sem nunca ter existido o amor mas sempre muito imaginado.  Lendo e relendo o livro, espero sempre que no fim eles acabem por se conhecer e por se amar de verdade, porque a relação que tem é baseada na imagem distorcida que tem um do outro, vivem juntos, mas as palavras já estavam gastas, já se tinham dito tudo o que pensavam que podiam dizer, porque só diziam o que pensavam que o outro queria ouvir, os dias que passavam juntos eram de solidão apesar do espaço comum que partilhavam, viviam um para o outro mas estavam ausentes. Dormiam juntos e amanheciam em quartos separados, ele nunca a viu a sair da cama, sem maquilhagem, sem as horas de preparação para estar bela para o seu Senhor. Ela nunca o vui como um homem normal, ele tinha horror de pensar que ela o podia ver com a barba por fazer e o banho por tomar. Pensavam que se amavam, mas o que amavam na realidade era a imagem que tinham de si mesmos, reflectida no espelho do outro.   Lendo e relendo este livro perguntei-me sempre o mesmo, porque falham as relações amorosas quando se pensa que tem tudo para dar certo? Não será porque tentamos dar de nós uma imagem que não corresponde totalmente ao que somos, não será porque endeusamos a pessoa amada e não queremos ver o que está do outro lado do espelho? E porque quando caí o pano, abrimos os olhos e concluímos que os belíssimos olhos azuis eram afinal castanhos, que os belos cabelos ondulados, são mais parecidos com uma esfregona do que com cabelo, porque o pneuzinho que até tinha uma certa graça é matéria adiposa sem fim, porque o ciuminho maneirinho era doentio. Acordamos e concluímos que não são os sapos que se transformam em príncipe/princesa, a metamorfose é sempre inversa, dormimos com príncipes/princesas acordamos com sapos, mas não será também esse o encanto da vida, aprender a amar o sapo, aceitar que não há ninguém perfeito e que até se pode amar o pneuzinho, o cabelo tipo palha, e que a pessoa amada não perde qualidades por isso?   A bela do senhor são todas as mulheres apaixonadas que se transfiguram, anulam, para agradar ao objecto da sua paixão, o senhor lembra-me todos os homens mais ou menos aventureiros que se deixam e querem enrolar, sem saberem muito bem como, em situações que não fazem ideia de como foram criadas, dúbias, pela obsessão de conquistar, deslumbrados com os dividendos que podem obter por acompanhar com as suas belas.   Este livro não deixa de ser uma belíssima história de amor, não casaram, não tiveram muitos meninos, não foram felizes para sempre, mas tiveram a dignidade de não se auto destruírem, de seguir o seu caminho e de procurar uma outra estrada para a felicidade. Com isto concluo e tenho a certeza de não ser a primeira que o amor nunca anda de mãos dadas com a paixão.



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