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A coroa de orquídeas
(Nelson Rodrigues)

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Não há como negar que Nelson Rodrigues não só choca o leitor com a apresentação de uma realidade nua e crua, como também nos obriga a ver a vida sem maquiagem. Cada página de seus escritos é recheada de tudo aquilo que preenche o nosso cotidiano, sem “manto de mistério”: amor, paixão, sexo, traição, muito humor e tragédia.
O conto A Coroa de Orquídeas gira em torno da doença, agonia e morte de uma mulher chamada Ismênia em quem seu esposo Juventino sempre depositou total confiança e a considerava uma mulher casta e recatada, isto o envaidecia muito.
Juventino, no seu desvario de quase viúvo, expressando seu sentimento de uma maneira estranha, debatendo-se para todos os lados, tornando-se agressivo chega a morder a mão de alguém que tenta prestar-lhe solidariedade.
Explica-se a atitude de Juventino porque são os afetos, as emoções, os sonhos, as fantasias, os desejos, as expectativas que dão sentido a nossa vida afetiva. Ismênia deu o último suspiro; ele acabava de perder o amor de sua vida. Juventino se desesperou tanto que perdeu o controle emocional, chegando e esmurrar seu próprio peito, falando em se matar.
A falecida foi velada em sua própria casa, pois Juventino não consentiu que fosse velada na Capelinha, considerando isto um desaforo contra sua amada.
Juventino sempre teve aversão à morte e medo de ver defuntos, se apavorava ao lembrar que teria de beijar o rosto de sua amada já cadavérica. A solução encontrada foi a de fechar os olhos para não vê-la, porque os defuntos são feios e não usam pintura. Esta reação foi um mecanismo de defesa que o viúvo estava se utilizando.
Para um indivíduo, a percepção de um acontecimento do mundo externo ou do mundo interno, pode ser algo muito constrangedor, doloroso, desorganizador. Para evitar este desprazer, a pessoa "deforma" ou suprime a realidade - deixa de registrar percepções externas, afasta determinados conteúdos psíquicos, e assim interfere no pensamento. São vários os mecanismos que o indivíduo pode usar para realizar esta deformação da realidade, o qual, chamamos de mecanismos de defesa.
É justamente estes mecanismos que vão regular o comportamento para um padrão ajustado ou desajustado, a depender da intensidade em que ele reprime certas emoções, e/ou fatos que ele não queira ou não saiba lidar.
Para aumentar ainda mais a dor de Juventino, entre tantas coroas recebidas, chega uma coroa de orquídeas de alguém que ninguém conhecia. Ele mesmo desenrolou e soletrou a fita de homenagem que revelava algo misterioso: “À inesquecível Ismênia, com todo o amor, Otávio”. A palavra inesquecível para ele soava como uma punhalada material. Ficou despeitado porque aquela coroa tinha custado mais do que a que ele comprou. E se perguntava: “todo amor porquê?” Tornou-se ainda mais agressivo em sua dor, ofendendo as pessoas que estavam sendo solidárias naquele momento.
Quando a sogra lhe chama para despedir-se da falecida, ele vai ao escritório e vem munido com a ferramenta da vingança. E em vez de beija-la, desfere um golpe de punhal entre duas costelas, gritando e chamando-a de cínica.
Percebe-se que o conto A Coroa de Orquídeas é a história de alguém que pode ser considerado anormal pelo seu comportamento diante da morte, pelo medo que tinha de defunto e por ter cometido crime passional em um cadáver.
Juventino sentindo sua honra manchada pela traição de Ismênia, a quem ele tanto venerava, ficou tresloucado de dor, e o amor que sentiu por ela todos aqueles anos, de repente, transformou-se em rancor tão violento que o tornou assassino de quem já havia morrido.
Percebe-se que aí aconteceu um crime passional, caracterizado como homicídio privilegiado, pois ocorreram concomitantemente os elementos da violenta emoção (estado em que ele se encontrava), da injusta provocação (a coroa de orquídeas recebida do rival), e imediatismo da reação (vingança da honra no momento em que teve conhecimento da traição).
Interessante a expressãocom que o autor descreve o final do conto: “E a morta parecia rir”.
Esta expressão pode ter dois significados: em primeiro lugar, Ismênia ficou com suas expressões fisionômicas inalteradas porque estava morta. Em segundo lugar esta expressão na imaginação do autor e das pessoas que lêem o conto pode ter o sentido de que ele, Juventino era tão cego de amor e possessivo por ela que não percebia a traição da esposa; e ela devia ser bem espertinha para que ele não percebesse o seu caso com um amante, por isso se fingia de puritana e talvez até ria-se dele (em vida).
Constata-se que os afetos, as emoções, os sentimentos, o prazer, a dor, o amor, o ódio e tudo que sentimos fazem parte da nossa vida psíquica. Vimos também que o afeto determina os nossos atos e que é um ponto de partida para o apego ou ligação afetiva. Os afetos podem ser duradouros ou passageiros. Entende-se que o homicida passional procura dar uma satisfação à sociedade, mostrando que não aceitou a insubordinação de um ser que lhe devia respeito e obediência. Quer "lavar a honra" de marido traído, como se o comportamento da esposa manchasse sua dignidade perante os outros. Nenhum desses valores, porém, pode ser aceito para perdoar o criminoso, mas apenas para explicar sua desastrada conduta. A passionalidade não justifica o crime, somente o explica. Os motivos do criminoso passional são abjetos, repugnantes, torpes. Ele age por puro egoísmo, possessividade, arrogância, ódio. Ninguém mata por amor. O amor não gera destruição, mas compreensão.



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